Isabela do Lago

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Belém, Pará - Amazônia, Brazil
A natureza da coisa arte em minha trajetória ocupou lugar no que se diz opção profissional, nem sei dizer nada a respeito de vocação pois nunca ouvi o tal "chamado". Por toda a minha vida tenho cercado o ato de produzir imagens, sejam elas desenhadas, pintadas, fotografadas, filmadas, dançadas, cantadas ou aquelas que figuram mundos internos nas almas imersas em situações nada concretas, a realidade vem a partir da leitura de quem se presta ao ato existir. Intuição, paixão e o nada me tocam neste viver o sentimento criativo desde que sinto coisas que não vejo e procuro transformá-las em algo visível e para que isto aconteça vivencio a criação no momento dela - e depois a esqueço.

domingo, 30 de maio de 2010


nova maior

Tô na concorrência!!!



Pintura eu sei fazer, agora será que sei fazer projeto?
Oh, caramba!!! me candidatei a 05 prêmios na FUNARTE com o poética
de gente líquida, será que vai?
Este é um pedacinho do meu dossiê, afinal, já o venho construindo há bastante tempo.
Favor, desejar-me boa sorte!
Isabela do Lago.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Uma flor para a velha turca que se vai

Uma flor para a velha turca que se vai
e que tua carne sirva a fome dos camirangas

Foi longe o tempo que chegaste
lampião de querosene
lampião que permitiu tua entrada
nas terras da Contenda virada
chegaste lá enganada
menina tola com fitilhos murchos nos cabelos
cabaça dágua: bebe, criança ingrata!

Um dia eu vi aquela velha
Surrando jumentos surdos pela alvorada
perdida do pai, da mãe, dos tios
andarilha
chegaste no nada!

"Velha turca amaldiçoada"
gritavam peões fodendo as vacas
tristes
miseráveis
sedentos
raivosos
temerosos

De tua boca, palavras jamais caladas
menina tola, filha de gente desgraçada!

Plantaste tanto, colheste nada
até a memória se perdeu
levada pela enxurrada

do doce de leite
do arroz de carneiro
do amor que me deste
Tire já o dedo da boca!
Prende este cabelo!
Tome tenência!

chega de choro!

na noite de hoje
irei a alguma encruzilhada
vou deixar uma flor
pra velha turca desmiolada

Bela do Lago.

sábado, 8 de maio de 2010

Maria balnça enquanto a porta chega



A porta grande e branca!
devo mesmo tirar as ferragens?

Entre as chuvas e o nada!


O que fazer disso tudo que temos a fazer?

Resolvi concordar com a lindíssima colega de profisão, Lucimar Bello, que costuma dizer sempre por aí que "o ato de imaginação é um ato performático", e ainda arrasa com a gente quando grita na nossa cara com formas e cores que "precisamos ser irreais para sermos reais - que é o desejo de realizar uma situação imaginada tornar-se real".
Nesta fase líquida de meu trabalho, tenho solidificado desejos antigos, como o de conhecer mais de perto a ritualística afroamazônica, como o desejo antigo de fazer teatro no teatro, e de expor pintura numa galeria, e como se não fosse ainda o suficiente, minha antiga vontade de que as pessoas vejam coisas diferentes da TV, ando vendo filmes, e vendo filmes e pessoas em cineclubes.
Viu só, teatro-pintura-poesia-cinema, podemos todos recorrer ao ato imaginativo e irreal para chegarmos ao real-idealizado, ou algo perto disso.
Cumprirei minhas metas até o fim deste ano, depois de pintar a primeira porta já ganhei duas portas, dois amigos, que amo muito não porque sejam pessoas muito amáveis e sim, porque as dores da vida me ensinam a amá-los, hoje, um deles veio aqui, trazer uma porta branca e disse-me: depois entregue as fechaduras!
Então, tá, chicó, me dá um portal para que eu adentre em mais um rito de passagem, eu entro na porta, e depois não tenho fechadura? Então não tenho mais volta?
Já o ouro amigo, continua em poder da porta que me deu, pediu que eu lhe dê algo que a substitua... sem comentários, Arthur! Tens toda razão, não posso exigir nada daquilo que eu mesma não consiga retribuir, assim se vive.
No ultimo encontro do GTU, trabalhamos mais um dos distanciamentos de Ionesco, desta vez, usamos alimentos para travar a fala nos diálogos teatrais, eu que não levei alimento, fiquei no meio de um montão de gente falando com a boca cheia, se cuspindo e se vomitando, e querendo fazer aquilo também: muda, e de boca vazia! Quando eu resolvi abrir a boca pra falar, o ator que estava de frente pra mim, gritou, e assim cospiu uma gosminha de farelos de bolacha que obviamente caiu dentro de minha boca e me senti imediatamente saciada.
Sobre os distanciamentos todos de Ionesco, tenho pensado muito sobre a cidade em que vivo, e na tentativa de bloquear os sentimentos por esta cidade... bem.. achei prudente por um trecho do projeto "Portais em Conexões com Gente Líquida..." expondo
meu desejo de identidade e territorialidade.

SEGUE:

Nossa gente é líquida, vive em Belém do Pará, entre as chuvas e o nada.
Cresci em residência perto dos rios, mares, tempestades e igarapés, e hoje percebo que nós, paraenses, nadamos num mar de preconceitos, seja o preconceito do país - Brasil em nossa direção, como se não fôssemos brasileiros, seja entre nós mesmos, uns aos outros. Estranhamos-nos em nossa pluralidade cultural, justo aqui onde o modelo de “progresso” implantado com a colonização branca até hoje trai a confiança de meninos e meninas, ofende e humilha a honra de homens e mulheres.
Somos campeões brasileiros no ranking da violação de direitos humanos, Belém, surge no tempo atual como uma cidade – cortina cenográfica que está localizada em frente ao rio-mar, ladeada pela favelização das comunidades rurais e cada vez mais distante das matas onde vivem os deuses da natureza que deveriam nos proteger.
Este trabalho pretende com a pintura alcançar toda a força de luta feminina contra as variadas formas de violência que nos são impostas diariamente, é um chamado a adentrar no compartimento privado da superação de traumas deixados pela violência de gênero. É, pois, dedicado as mulheres da Amazônia, e presenteado a todos os homens de todo o mundo.