Isabela do Lago

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Belém, Pará - Amazônia, Brazil
A natureza da coisa arte em minha trajetória ocupou lugar no que se diz opção profissional, nem sei dizer nada a respeito de vocação pois nunca ouvi o tal "chamado". Por toda a minha vida tenho cercado o ato de produzir imagens, sejam elas desenhadas, pintadas, fotografadas, filmadas, dançadas, cantadas ou aquelas que figuram mundos internos nas almas imersas em situações nada concretas, a realidade vem a partir da leitura de quem se presta ao ato existir. Intuição, paixão e o nada me tocam neste viver o sentimento criativo desde que sinto coisas que não vejo e procuro transformá-las em algo visível e para que isto aconteça vivencio a criação no momento dela - e depois a esqueço.

domingo, 10 de junho de 2012

Parênteses são sussurros e rótulos são feridas

(Oi, amor, vamos ex-perimentar outra coisa hoje?) Olha: Sempre que ouço ou leio alguém falar sobre feminismo, defesa de direitos da mulher, tratados, livros, convenções e convencionalismos sobre o famigerado ‘universo feminino’ o texto é praticamente um jargão que sempre encontro, esse papo de que historicamente as mulheres foram relegadas apenas às tarefas domésticas, ao papel de mães, esposas, filhas que ficam pra titia e noivas neuróticas, ou mal-amadas e bla-bla-blás, dentre outros rótulos (não se ria disso, esses rótulos doem), as sortudas de todas estas histórias acredito que são as putas e as bruxas, nunca vi uma imagem de puta lavando louça, ou de bruxa apanhando do marido. A história que contam sobre a história da mulher na sociedade (brasileira? Mas a leitura da sociedade brasileira é uma leitura brasileira?) é uma história chata, aclichezada, medíocre e infame, não que isso seja errado, ou que eu discorde (por favor, tenham paciência com meu texto!) estou falando da história oficializada que a história oficiosa teima em re-pe-tir, e isso é um caso muito sério, por aí passeiam fantasmas da hipocrisia, da falta de imaginação, da ausência do senso crítico e por aí vai... Mana, vai! (Vai? Não vou que eu não sou ninguém de ir em conversa tralá lá lá lááá...). Quero ver é quem tem peito (e mora longe) pra falar que as donas de casa, as vovós tecendo crochê, as noivas neuróticas, e todas essas aparente-mente inofensivas não estavam de cabeça mergulhada nas mais altas obras da intelectualidade, imersas nos projetos mais audaciosos que os caras tramavam, vai, diga lá! Diga logo que não era o nome da mulher que estava no documento porque você não imaginava que enquanto lavava cuecas a moça podia pensar (então há um certo grau de inocência no machismo? Ou foi o só o Batman que não quis mesmo assumir a homoafetividade pra Gotan City não se sentir /ainda/ mais insegura? Hã? Parece até que tudo que leva o gênero feminino é absolutamente sedutor e mete medo. Mete?). A propósito de meter, (você já tomou seu café com violência intelectual hoje? Não? Experimenta, tá uma delícia) se formos pensar na história da arte, dá para perceber que daquilo tudo que deixou de testemunhar, quando as bonitas participavam de salões com pseudônimos masculinos para serem aceitas, ou quando obras fabulosas de mulheres fabulosas foram fabulosamente roubadas por artistas fabulosos, ou mesmo quando nos ateliers dos caras mais fodões rolava crise criativa, a esposa que ia levar almoço lá dava um palpite e resolvia tudo (e tome crise conjugal), quantas vezes essas mulheres foram reconhecidas como autoras ou co-autoras? Ah, mas isto é pouco, diante da grandeza de olhar que vejo em muitas colegas, diante da magnitude do trabalho de tantas e tantas artistas que ficam sempre num segundo plano, e quando aparecem no topo das “mais-mais” não conseguem conceituar, ou se conseguem ninguém deixa aparecer, sempre vem um crítico, um produtor, um estudioso, um qualquer coisa do gênero (oh) pra dizer o que pensa e muitas vezes distorcer (tá mas a leitura é livre Isabela, cuidado com isso.) Cuidado Nada!!! Essa tal de história oficial da sociedade brasileira (que é beiçada numa cultura de branquelos e beijada pela Dona Escolástica, velha traiçoeira) ensinou pra gente que mulher foi submetida a não pensar e ninguém nunca se tocou que só estavam mandando no comportamento exterior, na aparência da aparência da aparência, mas que por dentro a gente ia calma-mente (mente sim, porque a mentira daquilo que somos é a defesa daquilo que queremos ser, sabe, assim tipo um respirar pra dentro, sabe?) por dentro somos feitas de tanta carne e tantos líquidos quanto qualquer macho, nossas tripas conversam muito mais conosco e com o cosmo, porque se houve silêncio é que até nossos prantos foram punidos. A hierarquia que é irmã gêmea da anarquia(tipo Rute e Raquel) nessa demência bipolar do pensamento eurádico pende pro lado do pênis, sim a hierarquia é Fe-mi-ni-na é mulher e gosta de macho ou foi induzida a isso, daí trata a gente com desprezo( o desprezo: este sim é homem e é macho, mas vai que um dia Red Bull te dá azas e...) Escuta aqui, sociedade brasileira(brasileira?), já que não deu pra dar crédito pro nosso trabalho no passado, vamos recuperar o tempo (que é REI) e dar mais visibilidade pras niñas de hoje, porque a arte contemporânea é uma canoa sem remo (nem Paysandu) a deriva numa infinidade de águas correntes, e que se misturam, e que são águas de Oxum e Yemanjá.(um beijo pra você que me leu até aqui). Isabela do Lago.