Isabela do Lago

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Belém, Pará - Amazônia, Brazil
A natureza da coisa arte em minha trajetória ocupou lugar no que se diz opção profissional, nem sei dizer nada a respeito de vocação pois nunca ouvi o tal "chamado". Por toda a minha vida tenho cercado o ato de produzir imagens, sejam elas desenhadas, pintadas, fotografadas, filmadas, dançadas, cantadas ou aquelas que figuram mundos internos nas almas imersas em situações nada concretas, a realidade vem a partir da leitura de quem se presta ao ato existir. Intuição, paixão e o nada me tocam neste viver o sentimento criativo desde que sinto coisas que não vejo e procuro transformá-las em algo visível e para que isto aconteça vivencio a criação no momento dela - e depois a esqueço.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Herança do gatilho

Mais fotos neste álbum https://plus.google.com/u/0/photos/114332809175617735630/albums/5494964550088177201 Série fotográfica produzida para o jornal Expresso 47 de Santa Luzia do Pará, com o objetivo de reconstruir através da memória da comunidade uma matéria sobre a vida do legendário Gatilheiro Quintino da Silva Lira que nasceu no município de Augusto Correa em 1947 e foi morto pela polícia em combate no complexo CIDAPAR em Viseu no dia 4 de janeiro de 1985. As imagens que não foram publicadas na matéria veiculada no mês de Agosto de 2011, trazem retratos das famílias que conviveram com Quintino e contribuíram com o jornal. Ele se transformava em onça, em folha, em tronco e até escondia-se atrás de um facão pra escapar das emboscadas, dizem que conseguia isso graças a uma oração de encantamento que lhe foi dada por uma macumbeira do Codó (Maranhão). Foi preciso percorrer a zona rural da região do alto rio Guamá no nordeste paraense, visitar comunidades quilombolas, assentamentos e demais vilarejos, entrar nas casas e conversar com as pessoas para conhecer as muitas histórias deste nosso guerreiro, entrando em contato com a herança viva de uma tragédia patrocinada pela ação do Estado e sua política de favorecimento do capital que autoriza a violência da empresa CIDAPAR e de poderosos latifundiários sobre os camponeses da região. A fotografia por si não se basta, foi necessário conversar com estas pessoas, conversar mesmo no sentido de perfazermos a nossa experiência com a experiência delas, estas imagens guardam um passeio na linha do tempo, sempre entre cercas de fazendas e comunidades cada vez mais reprimidas. 26 anos depois da morte do gatilheiro Quintino ainda há resistência cultural e social, se nosso herói não tivesse passado por aqui e trocado sua vida, sua alma e seu coração por abrigo e munição, talvez esta gente nem mais existisse. A herança do gatilho é a consciência da própria dignidade na luta infinita pela existência. Isabela do Lago.