Isabela do Lago

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Belém, Pará - Amazônia, Brazil
A natureza da coisa arte em minha trajetória ocupou lugar no que se diz opção profissional, nem sei dizer nada a respeito de vocação pois nunca ouvi o tal "chamado". Por toda a minha vida tenho cercado o ato de produzir imagens, sejam elas desenhadas, pintadas, fotografadas, filmadas, dançadas, cantadas ou aquelas que figuram mundos internos nas almas imersas em situações nada concretas, a realidade vem a partir da leitura de quem se presta ao ato existir. Intuição, paixão e o nada me tocam neste viver o sentimento criativo desde que sinto coisas que não vejo e procuro transformá-las em algo visível e para que isto aconteça vivencio a criação no momento dela - e depois a esqueço.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

O FIM DA CARNE COMEÇO DO MAIL Carta fúnebre aos companheiros dos companheiros dos companheiros


Nery, Ismael. O GUERREIRO Nankin/aquarela s/ papel. 1924
Porque desconfio menos das pessoas que costumam se falar pessoalmente.

A Amazônia não merece um movimento cultural de unificação a partir de Belém
Aforça destas águas não brota desta nascente
Em Belém não há artistas, não há
Jornalistas não merecem ocupar tal espaço
Este movimento precisa de quem tem sabor de sangue entre os lábios
Abutres comem carne podre. Decomposta sem sangue
Outros pássaros devem voar neste céu que é de todos e de ninguém
Nada aqui está errado, nada está
Quem conhece arte não conhece o certo nem o errado
Quem conhece arte conhece a descrença, a dúvida, o inferno da existência vinda da própria existência
Partilhar está longe de repartir começar é bem mais perto de parir do que de morrer
Há tempo ainda, recorram à ciência
Porque tanta sede de poder?
Poder dizer, poder crer, poder apontar o dedo e mandar?
Conhecem algo mais divino que a mentira? Não? Então não conhecem arte
Então retirem-se do mundo que eu quero ter o direito de habitar na maldade, na desconfiança e no erro: substâncias seminais de tudo que há.
A vossa bondade é tamanha para com o próximo que não se cansam de aplaudir e apedrejar
uns aos outros constantemente.
Fiquem com a vossa bondade natalina que eu quero poder rir com a boca bem aberta a ponto de engolir estrelas e peidar nuvens
Não careço de compreensão
Meu ori está suspenso sobre meus próprios ombros
e quem balança meus cabelos é mesmo o vento
meu sentimento, não sai do coração, não.
Isabela do Lago.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Aberta a Temporada de caça: Deixem os viados em paz!



Espero que a Federação Paraense de Cineclubes não enrusta esta causa - Temos o dever de lutar muito e muito contra a violência, estamos pautando para janeiro uma ação contra os crimes de homofia. Aí vai um lindo texto de Yan Beauvais:

Coisas de viado !

yann beauvais



Para falar sobre a relação entre filmes experimentais e a cultura gay no Brasil, estarei focando este ensaio em poucos filmes. Parece que no Brasil, assim como em muitos outros países, o campo da produção experimental no cinema tem sido desenvolvido por indivíduos que com frequência pensam que estão produzindo alternativas para o cinema comercial. A prática de cinema e/ou de vídeo se tornou um ato de resistência, assim como uma forma de produzir imagens a partir de um espaço, que foi com frequência proíbido, censurado ou nem mesmo concebido.



Neste sentido, fazer filmes experimentais nos anos 60 e 70 foi uma forma de articular diferentes tipos de prática, dentre as quais foi muito importante a afirmação da subjetividade e do desejo, lado a lado a uma aproximação analítica ao aparato cinematográfico. Eu gostaria de enfatizar as possíveis correspondências encontradas entre a prática de cineastas brasileiros com a de cineastas de outras partes do mundo.



Vale lembrar a importância da produção cinematrográfica feita por cineastas gays e lésbicas na história do cinema experimental. Se pensarmos dentro desta história, veremos a importância de Jean Cocteau, Kenneth Anger, Gregory Markopoulos, e Curtis Harrington, em formar a figura do homosexual através do desejo, da ansiedade... A partir dos anos 30 e 40 o homosexual não é somente uma vítima, um fora da lei, um ser menospresado. O personagem do homosexual está a deriva no mundo, se reflete através do filme, que se afirma como uma forma de cinema pessoal, ou mais precisamente como cinema EU. Um cinema que expressa o eu, uma expressão pesoal através da câmera, com frequência mediada por um personagem vivido pelo diretor, seguindo o caminho aberto por Maya Deren com o filme Meshes of the Afternoon em 1943.









Em muitos destes primeiros filmes, a afirmação do desejo é condensada dentro de formas cinematográficas específicas, apesar da subversão da narrativa através do deslocamento, da fragmentação, e da rápida edição. Este cinema está lidando com a ruptura e o êxtase, portanto sua forma é mais livre, e não segue a narrativa canônica. A representação do desejo, sendo algo novo na tela, teve que encontrar novas soluções formais para se manifestar. Os filmes desses cineastas, que fazem parte da geração Americana e a Européia seguinte, consistem em revelar um sujeito através da busca da identidade, ou através de um ato autobiográfico, que será compreendido por uma iconografia específica como a do bad boy, ou a do rebelde para Kenneth Anger. Mas a maioria deles, pelo menos até os final dos anos 70, não se posicionará como representante de uma minoria. O que está em jogo é a afirmação do desejo individual e específico. Esse desejo e sexualidade são diferentes e consequentemente questionam o modelo dominante heterosexual, o que não significa que o cineasta representando um grupo. A partir de então, essa minoria pode vir a utilizar múltiplas representações que estão disponíveis e que podem ser compartilhadas/usadas/ e recicladas por seus membros. Nos anos 80 e 90 este fenômeno será importante dentro da comuninade gay Afro-americana, por exemplo, do mesmo modo como o foi para a comunidade lésbica nos anos 70 e 80.



Cineastas como Jean Genet, Sidney Peterson, Donald Richie, Jack Smith, Andy Warhol, Barbara Hammer, Jane Oxenburg, Maria Klonaris and Katerina Thomadak, entre outros, vão produzir representações de acordo com diferentes estratégias de questionamento, não somente do objeto de desejo, mas também de sua tradução em filme. Para mostrar a intrínseca natureza de seu objeto, os cineastas quebram a linearidade, utilizando-se não somente da edição acelerada (como a de Gregory Markopoulos e Kenneth Anger), ou a maneira incomum de gravar uma cena através do movimento da câmera, da sobreposição, das cenas desfocadas, para transmitir uma sensualidade que o cinema tradicional não transmite.



Reinvindicando uma sexualidade polimórfica e perversa através de figuras andrógenas (Jack Smith, Werner Schroeter), ou enfatizando figuras de inocência infantil como retratadas por Taylor Mead, ou afirmando uma urgência em relação à realização do desejo como no caso de Jean Genet, Kenneth Anger, e Barbara Hammer. A variedade de abordagens é essencial. Elas inscrevem multiplicidade no coração do cinema ecoando a diversidade de desejos e práticas que vão além da reprodução santificada. Desejo, prazer se tornam os aspectos principais para esse tipo de filmes, testando o limite daquilo que é posível filmar e mostrar. Da representação alegórica de atos sexuais à pornografia radical, o leque é bastante grande e tem sido muito bem explorada já há algumas décadas.



Parece existir uma relação próxima entre encenar este mundo invisível e a liberdade que cineastas experimentais desenvolvem em relação ao fazer dos filmes. Uma liberdade explorada de filme à filme, na qual a expressão pessoal e a busca pela identidade são os principais componentes. Se era possível jogar fora os códigos de narrativa, e um cinema de convenções, era portanto também possível apresentar pessoas diferentes. Esta diferença seria vista de forma ultrajante, como ‘Flaming Creatures’, no caso de Jack Smith e o Andy Warhol dos anos 60 e no Brasil, nos anos 70 e 80, com Hélio Oiticica ou Jomard Muniz de Britto. Aqui a ênfase é no camp, que na cultura gay é celebrado como forma de subversão da codificação do papel masculino, e também como manifestação do obsoleto e da estética ultrapassada e trash. O camp induz outra forma de codificação, uma encenação que muitas vezes será o centro do filme. Para conseguir estes resultados, cineastas irão insistir num aspecto ritualístico como na maquiagem, no figurino e na limpeza. Alguns exemplos podem ser encontrados em Lupe (1966) de José Rodriguez-Soltero, onde Mario Montez improvisou em volta da ascenção e queda de Lupe Velez, e se tornou uma sátira, Flaming Creatures (1963) de Jack Smith , onde o uso do batom provocou alguns momentos visuais interessantes, e My Hustler (1965) de Andy Warhol, onde um garoto de programa loiro realiza diversas atividades, especialmente a cena no banheiro que lembra trabalhos anteriores como Haircut (1963). Estas atividades pareciam levar um longo tempo, ou mais precisamente, elas obedecem à uma expansão do tempo, o que as torna em algo especial. Parece que esta expansão empurra a audiência ao seu limite, tanto quanto a música experimental, como as de La Monte Young e Dream Syndicate[1]. Este tempo expandido induz uma forma de transgressão em relação ao cinema convencional e seu rítmo, em direção a restrição da do narrativo criando um espaço original para figuras singulares que por acaso são gays, travestis, rejeitados... O que é exatamente o que Jack Smith estava fazendo em seus filmes, fotografias e performances, estendendo a duração da avant-scène, procurando entre os detritos a jóia que o filme, a performance, farão brilhar.



Em Agripina é Roma-Manhattan (1972), nós estamos exatamente em uma situação similar. Como Hélio Oiticica afirmou: Há um cineasta que quer me fazer de ator - filmes mudos underground: é Jack Smith, mito do underground americano, estive lá uma vez e ele depois ficou me procurando, até que …

Fui a uma projeção de slides com trilha sonora, uma espécie de quase-cinema, que foi incrível ; Warhol aprende muito com ele, quando começou, e tomou certas coisas que levou a um nível, é claro ; Jack Smith é uma espécie de Artaud do cinema, seria o modo mais objetivo de defini-lo[2].



Pode-se encontrar nos filmes de Hélio tendências similares como a aceitação da improvisação e uma fascinação por detritos. Em seu filme, Hélio utilizou Mario Montez (aka Dolores Flores, aka René Riveira) para atuar como um tributo a figura cult de Jack Smith.



Mario Montez e Antonio Dias estão vagando pelo centro de Nova York, jogando dados, mas não estão realizando nada. De alguma forma a performance é improdutiva, e neste sentido ela se aproxima da estética de Jack Smith[3].



O convite de Mario Montez pedia por um mundo underground e criaturas que transgredissem as regras do planeta heterosexual, produzindo novas relações que gentilmente subvertem questões de gêneros, através de uma mistura de clichês, da jovem personagem feminina que parece uma modelo, uma noiva vermelha e um noivo gigolô, etc... Se homosexualismo é concebido, será na margem, como se por acaso. Mas de fato, assim como alguns filmes da vanguarda antecessora, mas de uma forma mais distanciada, o filme de Oiticica está lidando com questões de gênero). Tudo no filme é teatral, cheio de artefatos e glamour barato que demonstra o aspecto do camp, e autoriza essa interpretação. Neste filme, podemos dizer que a vida do homosexual é insinuada, mas não monstrada abertamente. Isso facilita a vida de muitos críticos que se recusam a falar sobre este aspecto de Hélio Oiticica, e portanto não farão a conexão entre este filme com os retratos de rapazes como na série Neyrótika (1973); como se alguém não devesse mencionar este aspecto queen do artista. Esconder este lado pode ser um programa, mas de forma geral nos mostra as dificuldades de uma sociedade em relação as diferenças, e reflete uma forte homofobia. Tudo isso é muito estranho/esquisito!



Com Jomard Muniz de Britto a cena é diferente. Seus filmes feitos em super 8[4] lidam em parte com assuntos gays, de uma forma mais direta. No começo eles foram feitos com o grupo teatral de Recife: Vivencial Diversiones. Esses filmes compartilham muito com o teatro baseado na improvisação, no happening, e na reciclagem de objetos e personagens, seguindo a estética do lixo[5], fazendo deles parte do reino estético promulgado por Jack Smith entre outros. De acordo com Sivério Trevisan: “Com Vivencial Diversiones, ser gay era um elemento inflamatório do elemento subversivo.”[6]



Elemento subversivo que pode ser visto nos filmes feitos por Jomard Muniz de Britto de 1974 até o final dos anos 70. O que está em questão aqui não é somente a afirmação da ambiguidade que subverte o papel e sua interpretação dentro dos códigos da sociedade, mas também a afirmação do caráter gay em todos os seus aspectos e variedades. Dois filmes de Jomard Muniz de Britto são exemplares: Vivencial 1 (1974) no qual a troupe questiona o mito do andrógeno, o que é seguido por uma espécie de orgia que acontece na escadaria de uma igreja. A dimensão ritualística, a atmosfera festiva, para não dizer carnavalesca, facilitam a subversão e a transgressão. O uso de símbolos religiosos e gozação dos representantes católicos evocam mais Jean Genet que o anti-catolicismo do surrealismo. Este filme retrata uma sexualidade livre, uma sexualidade fluída, a qual por não se atribuir à um objeto parece ter algumas similaridades com o que promulgou em seus filmes, Jack Smith. Inventário de um feudalismo cultural (1978), mistura elucubrações de um grupo de travestis evocando uma jornada pela história do Recife. As figuras flutuantes dos travestis, e do rapaz são essenciais para este cineasta, tanto quanto foram tão proeminentes para Derek Jarman, ou Lionel Soukaz. Seus filmes parecem seguir uma pessoa só, até encontrar outra, e assim por diante. Oscila-se antes de ir de um para o outro, enquanto o garoto se vai trepando com outro. O que está em questão aqui é uma forma de militância pelo prazer, que significa neste caso, prazer gay e que encontramos em muitos filmes underground Europeus e Americanos das décadas de 60 e 70. Nesta ordem pode-se abranger os filmes de Jomard Muniz de Britto, aos do movimento hippie vistos nos trabalhos de Ron Rice e Saul Levine, que celebram a liberdade do sexo e das drogas.



Se, no mundo ocidental pode-se seguir um desenvolvimento regular dentro da cena de filmes experimentais, uma geração após a outra, parece que no Brasil este não foi exatamente o caso. A produção de filmes parece ter se modificado, como citado por Arlindo Machado entre outros, de filme para vídeo bem cedo, mas conforme minhas pesquisas até este momento falta um pedaço desta história, não que não houvesse uma produção nos anos 80, mas esta era certamente menos prevalente. O vídeo era a forma predominante já que estava mais disponível e de certa forma, mais barato que filmes.



Rafael França foi uma figura dominante dentro da vídeo arte no Brasil, segundo Arlindo Machado[7] ele teve um papel importante na junção entre as artes vísuais e a arte de vídeo, mas ocupou uma posição passageira. Alguns de seus trabalhos lidam diretamente com conteúdos gay, como O Profundo Silêncio das Coisas Mortas (1988) e Prelúdio de uma Morte Anunciada (1991). Se o primeiro lida com amor e traição entre dois amantes, ele é feito de uma forma que mistura passado com presente, memória com realidade. Neste sentido o vídeo está utilizando a possibilidade do deslocamento que a edição oferece nesse meio. O seu vídeo partilha com alguns trabalhos de Gary Hill um interesse por uma estrutura de narrativa elaborada, que não segue uma linearidade tradicional mas que envolve questões sobre a semiótica do aparato. O seu último trabalho lida com a questnao da Aids. Essa fita feita alguns dias antes de sua morte mostra dois corpos se acariciando (ele e seu namorado), enquanto nomes de alguns amigos (18 no total), passam sobre cenas em close das mãos, bocas, e faces dos dois amantes. Abre-se em preto e branco até que o texto sobrepõe-se aos corpos vestidos filmados em cor. Este filme lida com a Aids, e desta forma fala e retoma outros que lidam com o mesmo assunto. Se a propagação da epidemia da Aids foi dramática na comunidade gay, também impulsionou uma mudança no fazer de filmes nos final da década de 80. Primeiramente nos Estados Unidos e na Inglaterra e depois em todos os lugares com a erupção através do ativismo em torno da Aids do novo cinema gay. Para os cineastas e astistas, as questões eram múltiplas, por um lado ele deveria saber como produzir filmes que lutam contra a vitimização da comunidade gay, e por outro lado mostrar que ser gay nessa epidemia não significava a falta de prazer, de sexo. Para alguns cineastas isso significou fazer filmes lidando com questões que não eram abordadas até então, como a etnicidade (os trabalhos de Isaac Julian, Marlon Riggs foram cruciais naquele momento tanto quanto o trabalho de Richard Fung), pornografia transgênicos, etc[8]…



Cineastas e artistas estavam preocupados com tópicos nos quais a questão da comunicação estava em jogo, ou seja, como acessar uma audiência mais expandida, para poder transmitir a mensagem ou a contra-mensagem e produzir alternativas para a mídia dominante hetero. Vídeo e Aids tem sido um campo fértil de produção devido à urgência da crise, e porque a Aids revelou, como ainda faz, uma sociedade feita de desilusão e tabus[9]. Esta fita do Rafael França foi uma das primeiras a lidar com a Aids no Brasil (1991) de uma forma alegórica. Esta, mostra um amante acariciando, beijando, mas você não vê o seu rosto, exceto no final, onde vemos que este personagem é o próprio artista. As estratégias utilizadas neste vídeo são similares, até mesmo similares à trabalhos feitos por diferentes ativistas com o propósito de mostrar que o afeto entre homens existe à despeito da Aids. Neste sentido pode-se ver uma conexão entre o trabalho de Rafael França e teses de Grand Fury, Tom Kalin, Gregg Bordowitz, e John Lindell para citar alguns. Não é a raiva que é dominante, mas o afeto, que é próximo à melancolia e a tristeza[10]. Esta forma de melancolia, que me faz pensar em Saudade, também está presente em diferentes fitas de Cyriaco Lopes, ao qual iremos retornar.



Em Paixão Nacional (1994), Karim Ainouz com seu filme de 16mm sugeriu diferentes questões, lidando com o turismo sexual e com o fato de que para um brasileiro não é muito fácil ser reconhecido como homosexual. De certa forma o filme fala da paixão dominando a razão. O filme mistura diferentes técnicas que se relacionam com a tradição de filmes de diário, mas sabe-se que é uma mera ficção e não um documentário, que mistura duas vozes. Uma é a do extrangeiro fascinado pela sensualidade do Brasil, e a outra é a do brasileiro morrendo pela hipocrisia de seu país. Neste sentido o filme compartilha mais com algumas das questões que o Novo cinema Queer estabeleceu em filmes de Tom Haynes[11], Gregg Araki[12], e Rose Troshe[13]…o que será confirmado, pelo seu longa - Madame Satã (2001).



Os dois últimos artistas de que gostaria de comentar brevemente, fazem filmes/ fitas em conjunção com outras práticas visuais. Cyriaco Lopes começou seu trabalho no Rio de Janeiro mas mora nos Estados Unidos já faz nove anos, enquanto Edson Barrus[14] vive entre São Paulo e Paris e começou a fazer vídeos quando morava no Rio de Janeiro no final da década de 90.



Em Beijos de Língua (2005-2006), e em Lovers and Saints (2007) os conteúdos são mais explicitamente gays que em outros trabalhos do artista, mas ao mesmo tempo não são travalhos ativistas. Eles abordam uma temática gay entre outros assuntos. Eles inscrevem, para dizer que não anexam, conteúdo gay. Em Beijos de Língua, as fitas feitas de frases curtas evocam situações peculiares de conteúdo cifrado que pode ser interpretado como camp, como gay, assim como se podia encontrar em muitos filmes de Hollywood quando era proíbido/censurado lidar com certos assuntos. Aqui encontramos uma estratégia similar mas com um toque poético. Nós falamos sobre isto sem sermos muito óbvios, insistentes, gentis e de certa forma bem quietamente. Estamos bem longe da provocação dos anos 60 e 70 onde excesso era essencial. Estamos num tempo onde a homosexualidade é aceita como uma forma de se viver, onde não se briga mais pela diferença... questão de crença. Neste trabalho, os textos são de fato um pretexto para outra história: Traçando a genealogia da lingua portuguesa, demonstra-se como a mistura a constitui. De uma certa forma estas noções de híbridismo são também produtivas em Lovers and Saints, no qual imagens de criminosos, homens mais procurados, são apresentados como amantes e santos. À estética utilizada aqui nos lembra Pierre e Gilles, uma certa paródia kitshy..



Alguns dos trabalhos de Rafael França e Cyriaco Lopes compartilham estratégias estéticas em torno da fragmentação e do uso das palavras como representação[15], que foram utilizadas por alguns artistas chamados pós-modernos e em filmes e vídeos ativistas em sua maioria; é aqui que encontramos o gay e a Aids, no qual o uso do texto é fator chave para a articulação de diferentes níveis de significado, apesar da velocidade de suas aparições como nos trabalhos de Tom Kalin, John Lindell, ou meus próprios trabalhos..



As fitas de Edson Barrus que eu quero discutir são trabalhos realizados, mas pouco vistos. Parece que estes trabalhos que lidam principalmente com a reciclagem de imagens gays pornográficas precisam ser feitos, mas não existem para serem promovidos como a maioria dos vídeos do artista. Trabalhar com imagens pornográficas explícitas sempre foi importante para a cena gay[16]. Estes vídeos constituem um tipo de coleção, catalogando um cenário similar de sexo de diferentes filmes. Eles reconhecem a democratização do acesso à pornografia que de certa forma aboliu as fronteiras e está disponível à quase todos em qualquer lugar do mundo em fitas e DVDs. O cinema não é mais o único lugar onde estes filmes são vistos.



Muitos cineastas experimentais influenciaram a produção pornográfica nos final dos anos 60 e começo dos anos 70 nos Estados Unidos[17], ou por fazerem filmes que beiravam a pornografia (ver os problemas ocorridos nos anos 60 e 70 com Jean Genet, Jack Smith, Kenneth Anger, ou Shuji Terayama e nos anos 80 com Lionel Soukaz[18]) ao empurrar o limte do que era aceito pela sociedade dentro da representação cinematográfica, ou fazendo o que era considerado pornografia do qual Pink Narcissus (1971 James Bidgood) poderia ser um exemplo histórico, ou Sodom (1989) de Luther Price que foi recentemente re-editado para que pudesse ser mostrado com mais abrangência[19]. Nos anos 80 muitos cineastas experimentais pelo mundo inteiro trabalharam com found footage/material filmico encontrado[20]. No entando, parece normal que como um objeto as imagens pornográficas tanto como a mídia, a web não será excluída desta apropriação. Muitos cineastas experimentais gays, têm desde os anos 80, incluído dentro de seus filmes imagens pessoais roubadas de filmes pornográficos, re-filmados da televisão ou piratiados de DVDs. À epidemia da Aids colocou em questão alguns comportamentos sexuais e nota-se que assistir filmes pornô se tornou um hábito compartilhado por todos. Não é mais um comportamento escondido e encoberto.



A inclusão do fórum gay é o objeto do Bate Papo 22cm (2001) no qual a tela é rabiscada e filmada durante uma conversa com algumas pessoas. O uso privado se torna público. À exibição dessa troca questiona a noção mesma do sexo privado e público. O que há de interesse neste vídeo é o fato de que estamos imersos num tempo diferente, ajustando à uma troca na qual somos somente o receptor passivo? Mas este novo campo aberto que Lionel Soukaz explorou com um de seus videos mais recentes: www.webcam (2005) no qual ele evoca a prática do encontro contemporâneo dentro do universo gay através da imagem e da interação que pela web é sempre induzido pela imagem. Isto não é sem lembrar uma das frases ditas por ele ou por Guy Hocquenghem em Race d’Ep (1979) que a foto de um homem jovem será sempre o item mais emocionante. É sempre uma questão de representação e, mais importante, uma questão de como lidar com a representação.



Em outros trabalhos é a reciclagem de imagens pornô, uma forma de apropriação e revisitação de algumas sequências que dão à estas imagens outra dimensão. De fato os filmes que vemos feitos por Edson Barrus são uma re-filmagem, feita com uma camera digital pequena, ouve-se na trilha sonora a respiração do artista dando uma codificação suplementar à imagem. Nós assistimos não somente à um filme pornô, mas somos testemunhas de uma pessoa assistindo e selecionando sequências e escolhendo parte das imagens para se olhar. A conjunção destas temporalidades é estimulante porquê é reflexiva e nos coloca em outra dimensão, incluindo nosso próprio olhar como uma outra camada de codificação. Isso acontece nos filmes Pour homme, Filmex, e Xbook feitos em 2005, ou até em 69 e THEND, os dois de 2006. Muitos filmes tem lidado com imagens similares mas eles eram uma apresentação de coleção, como no caso de alguns de Hundred Videos (1992-96) de Steve Reinke, ou All You Can Eat (1993) de Michael Brynntrup, ou More Intimacy (1999) de Chen Hui Wu. A especificidade de vídeos do artista Brasileiro tem a ver com a inclusão dele, mesmo através do som da respiração e do tremor da camera. Em ambos os casos o corpo do expectador/ cineasta é incluído no processo, e faz parte do que vemos. O uso privativo se torna público. Ele se torna parte do filme que estamos assistindo. Nos não estamos sosinhos! Em Filme X, por exemplo, ouve-se ruídos que não vem dos vídeos, mas da filmagem, e é –se transportado para outra paisagem imaginária, que transforma ou duplica a nossa experiência de voyeur, e isto especialmete porque neste filme existe uma forte ênfase na abstração da imagem devido à camera lenta, foco suave ou closes extremos, borrando formas e cores, algumas vezes padrões opticos moiré transformam os corpos.



Com Videopunhetas, um trabalho em andamento iníciado em 2001, o artista se masturbou em frente ao monitor que esta mostrando uma masturbação precedente. Um trabalho em uníssono! Um pinto encarando sua própria imagem. Todas estas masturbações são feitas para vídeos e evocam trabalhos anteriores feitos por Vito Acconci. Nós podíamos ouvi-lo, mas não vê-lo pois estava escondido embaixo do chão da galeria. Trinta anos se passaram desde a exposição, nós estamos agora encarando o espetáculo da sexualidade que foi realizado para e com a assiatência de novas ferramentas digitais. O que é importante nesta experiência feita por Edson Barrus, a despeito do orgasmo descrito ou não, é o fato de que os filmes foram mostrados numa galeria. O deslocamento do olhar, a locação onde o evento foi mostrado, transformou e colocou em questão este espaço público, que foi invadido por partes íntimas. É um acesso diferente e maior abertura do que os oferecidos pelo papo virtual ou pelos sites como o X-tube no qual pode-se ver e compartilhar os próprios encontros sexuais ou masturbação com qualquer um procurando a fita.



Parece que com trabalhos deste tipo, o que estava em questão inicialmente para a maioria dos cineastas experimentais que lidam com o cinema pessoal, era fazer imagens que afirmem a identidade do artista, seu desejo tanto como suas imagens foram democratizadas de maneira que qualquer um pudesse fazê-lo. Para a maioria dos cineastas hoje novas questões em relação à acessibilidade a enorme quantidade de trabalho pruduzido vão modificar a investigação voltada ao processo de criação audiovisual.



O que ainda é surpreendente é o fato de que apesar da produção de filmes pela indústria que incluem conteúdos gay, ou até novelas, questões gays parecem com frequência entendidas commo de menor importância, e são deenfazidas não somente pelos críticos, mas também pelos próprios autores, como se fossem sempre um trabalho secundário. Espero que isto seja somente uma questão de ignorância da minha parte...



Tradução : Marília Fernandes

Relectura por Cyriaco Lopes e Edson Barrus

In Retratos do BrasilHomossexual : fronteiras, subjetividades e desejos.
Horacio Costa et al. (Org), São Paulo, Edusp, 2010

[1] Neste exemplar ver Branden W. Joseph : Beyond the Dream Syndicate, Tony Conrad and the Arts after John Cage, Zone Books, New York 2008.

[2] ver Hélio Oiticica Quasi-Cinema, ed Carlos Basualdo, Wexner Center, Hatje Cantz, publishers, 2001, e carta para Waly Salomão, 25/04/71, arquivo projeto HO

[3] Com frequência críticos focam-se na natureza inacabada do trabalho para minimizá-lo. André Parente; Cinema de vanguarda cinema experimental e cinema do dispositivo em Filmes de Artista Brasil 1965-80, curadoria de Fernado Cocciarale, Contacapa, Rio de Janeiro 2007.

[4] Para uma filmografia de Jomar Muniz de Britto, Marginália 70, O experimentalismo no Super-8 Brasileiro, por Rubens Machado Junior, Itau Cultural 2002, para um estudo sobre ele ver: http://www.yannbeauvais.fr/article.php3?id_article=360

[5] JMBritto em Vivencial diversiones, Memórias da Cena Pernambucana 01, Leidson Ferraz, Rodrigo Dourado e Wellington Júnior, Recife 2005, e Nos abismos da Pernacumbalia.

[6] 1986, p.131 citado em Tentative Trangression Homosexuality, Aids and the Theater in Brazil, por Sevério João Medeiros Albuquerque, University of Wisconsin Press, 2004, e João Silvério Trevisan : Devassos no Paraíso 6a p 327/29 coleção contraluz, edição Record Rio de Jjaneiro/São Paulo, 2007

[7] As linhas de força do video brasileiro in Made in Brasil, três décadas do video brasileiro, org de Arlindo Machado, Itau Cultural, São Paulo 2007

[8] Um dos primeiros textos sobre esse assunto foi: How do I Look : Queer Film and Video, ed Bad Object- Choices, Bay Press, WA 1991, mas também Queer Looks : Perspective on Lesbian and Gay Film, de Martha Grever, John Greyson e Pratbha Parmar, Routledge, London 1993

[9] Sobre Aids e vídeo; Bill Horrigan : Notes on Aids an its Combatant in Michael Renov ed., Theorizing Documentary, New-York, Routledge, 1993 e yann beauvais De la vidéo et du Sida in Vidéo Topiques, Éd. Les Musées de Strasbourg / Paris Musées, 2002.

[10] Sobre melancolia e Aids, Douglas Crimp : Melancholia and Moralism Essays on AIDS and Queer Politics, MIT Press, 2002, inicialmente publicado em Outubro °43, AIDS Cultural Analysis / Cultural Activism MIT press 1987 e 1988

[11] Poison 1991,

[12] The Living End 1992

[13] Go Fish 1994

[14] Sobre Edson Barrus, yann beauvais La vidéo selon Edson Barrus in Revue & Corrigée issues Sept 2008 n° 77, e Dec 2008. Na Internet http://www.yannbeauvais.fr/article.php3?id_article=374

[15] Eu curei uma exposição no centre Pompidou chamada Mot: dites, images, (imagens como texto em filme e vídeo), ed Scratch, Paris 1987

[16] Thomas Waugh: Hard to Imagine: Gay male Eroticism in Photography from their Beginnings to Stonewall, Columbia University Press, 1996, é um estudo exemplar.

[17] Ver David E. James: The Most Typical Avant-garde, History and Geography of Minor Cinema in Los Angeles, University of California Press, Berkeley 2005

[18] Respectivamente : Un chant d’amour (1950), Flaming Creatures (1963), Scorpio Rising (1964), L’empereur Tomato Ketchup (1971), Ixe (1980).

[19] Hoje em dia este filme está disponível para aluguel e visualização no site Light Cone. Este último filme lida de forma geral com a reciclagem de filmes gay hardcore de uma forma que se aproxima àlgumas estratégias instauradas pela Boston college of arts na década de 80.

[20] Em Found Footage : yann beauvais, Jean Michel bouhours, Monter Sampler, centre Pompidou Paris 2000 ; Eugenie Bonnet : Desmontaje, Film, video /apropriacion, reciclaje, Ivam Valencia, 1993 ; James Paterson : Dreams of Chaos : Understanding the American Avant-garde Cinema, Wayne Sate University, Detroit 1993 ; William Wees : Recycled Images The Art and Politics of Found Fo notage, NY Anthology Film Archives, 1993

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A PARACINE VOLTA DA JORNADA COM AS BASES FORTALECIDAS





Nas fotos Reunião do GT AMAZÔNICO, o Francisco Teddy do Acre mostra seu sistema fantástico em plataforma livre de gerenciamnto de atividades cineclubistas, a lista de presença da reunião de GT e Arthur Leandro sufocando Eu e Adriane com seu carinho brutal.

Sim. Começamos nada bem. Haviam muitos fôlegos e diversos ânimos, mas esta questão foi fundamental pra que o povo do Pará se juntasse aos irmãos amazônidas do Acre, do Amazonas, do Amapá, de Roraima e do Maranhão que vieram fortalecer nossa pauta. E nossa pauta é nossa voz, e nossa voz quer ser ouvida local, nacional e internacionalmente. Queremos existir, brasileiramente falando, não apenas geograficamente mas também politicamente. Se isto é uma problema, ótimo, problemas existem para serem resolvidos.
Fazer cineclube é dar voz ao público, agregar os saberes, compartilhar a emoção do cinema, a Paracine reuniu cineclubes paraenses, levamos cerca de 03 anos para conseguir sermos esta federação, com a prática dos Diálogos Cineclubistas a gente vem dando voz e agregando saberes e compartilhando coisa pra caramba com quem faz isso, temos muito fôlego, neste sentido, não adianta gritar, vamos continuar lutando contra o isolamento cultural no Pará.
A vivência na Jornada oscilante entre o intenso trabalho diurno e longas horas festivas noturnas proporcionou exatamente oque precisávamos: Con-vivência. Saldo positivo foi levantar a questão do custo amazônico com o GT(aprovadíssimo sem ressalva alguma) e também elevar a discussão sobre o FAAL – Fórum Audiovisual Amazônia Legal, mas também não podemos esquecer a aproximação com o povo da Bahia, de São Paulo e do Rio de Janeiro e de tantas outras pessoas, de tantos outros lugares que não só levantaram o crachá em nosso favor, como também nos procuraram individualmente em gesto solidário.
Agora que o evento acabou, ficamos com aquilo tudo que nos ficou, depois de levar uma bronca do nosso padrinho, voltamos pra casa, pros nossos cines, pras nossas famílias e trabalhos, na realidade, a eletricidade inicial nos deu força a mais, vamos trabalhar com esta força para garantir o amadurecimento necessário, para crescer a Federação, desejo fundamente que a nova diretoria seja grande, seja límpida e seja digna e que possa, sobretudo, contar com a Paracine e toda a gente do norte. Vamos nos encontrar na Bahia, mais alegres, mais solidários, mais compreensivos, mais fortes e seguros de nossa missão cineclubista.
Muitos vivas a nova diretoria do CNC!
Isabela do Lago – Coordenadora Financeira da Paracine.

Registros da Jornada em Recife



sábado, 27 de novembro de 2010

As Sereias do Marajó pro Marajó






E agora pronto, largaram uma câmera nas mãos de uma criança
Começou o jogo. Acenderam a luz do sol e Sérgio Péo danou-se
A filmar o Marajó.
Brincando- brincando ele fez um dos filmes mais emocionantes
Que eu já vi sobre o Marajó, ou no Marajó, porque não posso
Me deixar esquecer da “Feiteira” do Resistência do Dalcídio
Da Joana da Andrea do Paulo Alex do Zé Carlos do Chico da
Cris da Alessandra do Rodiney e do mundo todo que cabe mesmo
dentro do Marajó e também por fora dele – Ninguém se ligou que
estava por fora do Marajó, Péo avisa a gente que tem um cortejo chegando
e que vai passando e a gente que não tava olhando deixou de ver. As águas
foram mudando e o céu foi andando e a câmera foi infantil, brincando, procurando
nada e achando muitos mundos e parando pra começar denovo o jogo do jogo que a gente esqueceu de jogar depois de virar gente grande tão gitinha que nem sabe que diabo que é o Marajó.
Eita. Cineclubismo é força, minha gente!
E agora que já foi devolvido a Soure preciso me separar disso tudo e continuar com outros jogos mesmo o grão de milho no fundo amarelo não alcançou tanto-tanto a luz
Do arraial no Círio de Soure 2010 e tudo se revirando e se misturando. Ai.
Isabela do Resistência Marajoara:)

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

I - AS SEREIAS MARAJOARAS OU 2 COBRAS GRANDES E UMA FEITICEIRA EMUDECIDA




Chega a ser uma sentença matemática, mas não tautológica. Uma sereia sentada numa pedra onde as ondas do mar jogam sua líquida fúria é uma condição arrebatadora do inapreensível desejo de existência da entrega. Você já presenciou isso?
E se esta sereia de longos cabelos verdes e busto extravagante te olhar diretamente e começar a cantar, o que você vai fazer? Acaso você já vivenciou um encontro com sereias? Quantas vezes?
Sereias são seres que transitam entre o real e o fantástico, não são fantasmas porque não estão mortas, mas também não estão vivas, elas simplesmente acontecem diante dos nossos olhos à beira-mar, ouvimos o seu canto e vivenciamos a maior das maravilhas mundanas, a sedução por imagem e som, e isto é uma pausa.
Atenção: Pausa. Fazer um filme é entregar-se a uma pausa. Uma sereia é um filme. Logo: Projetar um filme é oferecer uma sereia, então, falar sobre as sereias projetadas é dividir o devaneio e assim, socializar a pausa. Lá fora os carros passam, as festam queimam, um cachorro faz cocô na calçada, o guarda de trânsito apita, a mulher anda nas ruas, e tudo o mais vibra e gira e pula, dentro do cine CCBEU juntos, nos entregamos, vivemos algo em comum-união, vivemos o cinema marajoara.
O fascínio que declaro a este canto de sereia não nasce do canto atual, projetado, mas do que ele se propõe a ser, ou seja, nada além daquilo que o cinema jê é, ou seja, sereia.
As sereias marajoaras trazidas nesta sessão se chamam “A festa da cobra”, “Sucuriju” ou “A lenda da Cobra Grande” e “Quem calou a língua da feiticeira que os donos do mundo temiam”, parece que num acaso de criação fez-se aqui uma seqüência quase que lógica entre estas três obras, com estes três títulos assim dispostos um espectador que não conhece este trabalho pode facilmente fazer um filme em sua tela interior e desenvolver uma ilusão de sedução tentando antecipar a leitura antecedendo os fatos, ou pode um outro espectador atirar-se numa repulsa, imaginando encenações de mitos amazônicos segundo manda a ordem dos mesmistas folcloristas e regionalistas de lenda de boto com tucupi, perfeitamente compreensível, pois, há muito que a cultura marajoara é vista de fora pra dentro e há muito que se vende uma imagem folclórica da cultura marajoara, sendo exatamente folk-lore a sabedoria do povo com um quê de cultura “do outro”, nada mais preconceituoso.
- A reflexão de que filmes são sereias nasceu justamente porque pensando nestes três filmes do Coletivo Resistência Marajoara selecionados aqui, é que certamente quem se der a contemplá-los verá que não são absolutamente nada do que anteriormente foi imaginado e bem como esta quebra de ilusão é a força que nasce deste mar donde germinam outras ilusões, aqui falo do cinema marajoara feito pelas mãos da gente marajoara, e portanto, prevalece a força expressiva de quem tem este encanto.
Desde o início deste coletivo têm prevalecido duas categorias/tipos de filmes: O documentário e aquilo que compactuamos chamar de vídeo-teatro, todos coletivos e com o uso da luz solar. Somos um coletivo de artistas jovens, dentre eles há mães e pais de família, estudantes, desempregados e desempregadas, professores, todos e todas com disposição para se lançar a recursos expressivos do áudio-visual para falar da cultura marajoara em foco contemporâneo.
Os documentais, como “Festa da Cobra” são recortes da vivência do grupo na cidade de Soure onde se fala de pessoas e acontecimentos do cotidiano cultural desta cidade. Os vídeo-teatros também permeiam estas fímbrias de pensamento que só pode haver na cabeça de quem vive no Marajó, a diferença é que usamos da mística local em busca da realidade poética para compor as obras, ou ao que se pode chamar de delírio e de sonho. A aura mística é para nós o canto de sereia, nos vídeo-teatros estamos exercitando a linguagem artística em questionamento aos problemas sociais vividos pela juventude, portanto, ambos, “Cobra grande” e “feiticeira são absolutamente políticos, e lançam um olhar sobre a história do arquipélago.
*:) Bela do Lago

II- AS SEREIAS MARAJOARAS OU 2 COBRAS GRANDES E UMA FEITICEIRA EMUDECIDA


(cont...)
A reflexão de que filmes são sereias nasceu justamente porque pensando nestes três filmes do Coletivo Resistência Marajoara selecionados aqui, é que certamente quem se der a contemplá-los verá que não são absolutamente nada do que anteriormente foi imaginado e bem como esta quebra de ilusão é a força que nasce deste mar donde germinam outras ilusões, aqui falo do cinema marajoara feito pelas mãos da gente marajoara, e portanto, prevalece a força expressiva de quem tem este encanto.
Desde o início deste coletivo têm prevalecido duas categorias/tipos de filmes: O documentário e aquilo que compactuamos chamar de vídeo-teatro, todos coletivos e com o uso da luz solar. Somos um coletivo de artistas jovens, dentre eles há mães e pais de família, estudantes, desempregados e desempregadas, professores, todos e todas com disposição para se lançar a recursos expressivos do áudio-visual para falar da cultura marajoara em foco contemporâneo.
Os documentais, como “Festa da Cobra” são recortes da vivência do grupo na cidade de Soure onde se fala de pessoas e acontecimentos do cotidiano cultural desta cidade. Os vídeo-teatros também permeiam estas fímbrias de pensamento que só pode haver na cabeça de quem vive no Marajó, a diferença é que usamos da mística local em busca da realidade poética para compor as obras, ou ao que se pode chamar de delírio e de sonho. A aura mística é para nós o canto de sereia, nos vídeo-teatros estamos exercitando a linguagem artística em questionamento aos problemas sociais vividos pela juventude, portanto, ambos, “Cobra grande” e “feiticeira são absolutamente políticos, e lançam um olhar sobre a história do arquipélago.
*:) Bela do Lago

III - AS SEREIAS MARAJOARAS OU 2 COBRAS GRANDES E UMA FEITICEIRA EMUDECIDA


(cont...)Em “Cobra grande”, o grupo estava ainda no início, quando um conjunto de oficinas, dentre elas, roteiro e produção, teatro de máscaras e outras aconteciam quase que simultaneamente. Pegando sequência no documental “Festa da cobra”, em julho de 2009, decidimos falar sobre a perda da educação popular através da oralidade, o mito da cobra-grande, apareceu naturalmente numa entrevista com o Senhor Ilário, que é um respeitado pajé local que nos falou sobre a Sucuriju, uma entidade da pajelança, que segundo ele foi uma princesa encantada por uma cobra-grande na antiga fazenda “Sossego”. Conversando com o grupo, percebi que havia certa repulsa em falar sobre o assunto, uns por motivos religiosos, outros por simplesmente desconhecer, e até por medo do sobrenatural aquele era o momento decisivo, era o ponto nevrálgico de nosso trabalho que queríamos mais que tudo abordar o distanciamento da juventude do conhecimento tradicional e queríamos fazer isto usando o teatro de máscaras, e mais, queríamos isto num formato de vídeo. Assim, o relato do pajé orientou a construção de nosso roteiro, que como num quebra-cabeças, procuramos pensar cenas em que houvesse a representação desta desterritorialização da juventude marajoara.
De minha parte, na hora de compor as cenas, propus o processo de construção das máscaras, como fator de imersão materializada das personas.
A gestualidade dos atores e atrizes é praticamente robotizada, limitam-se por mover a cabeça para a direita e esquerda sob o comando de um personagem, e tiram e colocam a máscara, revelando o rosto limpo, sendo, neste jogo de personas uma junção de personagens míticos e não míticos, misturando o jogo do narrador, sendo a princesa encantada uma das personagens tidas como “gente nossa” ou “viva”. Foi simbolismo convencionado entre nós, a cena final, onde a única personagem que se movimenta dançando carimbo, queima a saia diante do olhar imóvel dos outros, queimar esta saia foi um ato de expressar este mal-estar diante do fato cultural.
Em “Quem calou a língua da feiticeira...” o questionamento continua sendo o mesmo, desta vez, houve um emaranhado ainda maior a ser solucionado, pois, não estávamos diante da narrativa oral do imaginário marajoara a ser traduzida em imagem, e sim da adaptação literária de um texto que fala da perda desta oralidade, a poesia da poesia de outra poesia aconteceu com aporte da dramaturgia e da composição de quadros, além do mais, neste caso, o roteiro já estava praticamente escrito pelas mãos de Dalcídio, e seguir este roteiro dalcidiano foi um profundo mergulho no mar, o grupo já mais maduro teve a adesão de novos e novas artistas, que certamente contribuíram muito para a montagem deste quebra-cabeças.
Sendo o cinema uma arte que se alimenta de outras artes, e absolutamente autônoma a existência do objeto filme, a dramaturgia junto a experiência de vida de cada um de nós foram peças fundamentais para a execução desta obra, pois o aparato teórico-expressivo fundamentou-se na literatura dalcidiana passando pelo teatro do oprimido e no método de imersão de cena segundo a proposta de Stanislavski, em o ponto médio entre o olho da câmera e o corpo em cena. Sem diálogos orais, mas não mudo, pois, a marca maior do histórico de opressão que o povo marajoara sofre ao longo dos tempos só pode se esxpressar pelo silêncio, restando-nos apenas a eloqüência dos códigos da arte cinematográfica, juntos solidários e colaborativos fizemos mais esta sereia marajoara, inicialmente mágica, mítica e fantástica que canta um canto lamentoso e chama a entrar no mar da exclusão sócio-cultural, neste mar, nadam a sedução da tecnologia e o olhar trágico de jovens artistas.

*:)Bela do Lago

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Palhaçadas, cantorias, capoeira e cinema comunitário





Nestes últimos sábados, dias 31 de Julho e 07 de agosto, o projeto Rota Cultural fez paragem nas comunidades quilombolas de Jacarequara e Muruteuazinho em Santa Luzia do Pará, passamos todos o dia inteirinho entre crianças e adultos envolvidos com atividades de arte-educação, lazer e cidadania.
Durante o dia a criançada se jogou nas brincadeiras e teatro de bonecos dos Clows "Claustrofóbico" (ator- José Arnaud)e "Dedé" (ator Déo) além do bonecão Mascotinho (do educador Evandro), mas os adultos envolvidos com as atividades adultas de documentação, educação e saúde também não resistiram, o sentimento de solidariedade e união estava mesmo entre nós, teve também partida de futebol, roda de capoeira com o Abadá - Luziense, apresentações de outros grupos de artistas locais, banho de rio, além da prestação de serviços como, orientações de saúde, atendimento odontológico, emissão de documentos e até corte de cabelo!
Ao cair da noite todos concentram-se para assistir a filmes, passamos "O arroto do boi ta-ta" um curta de animação que conta a lenda do Boitatá, da professora Sandra Rocha e foi realizado no municipio de Ferreira Gomes no Amapá, e "O coronel e o lobisomem" de Maurício Farias, um longa baseado na obra homônima de José Cândido de Carvalho. A mediação dos filmes foi feita por mim e pelo palhaço Claustrofóbico.
Este é um projeto meu, realizado em parceria com a RV5 - Comunicação, e totalmente patrocinado pela Prefeitura de Santa Luzia do Pará. Interessante lembrar em tempos como estes que a prefeitura de Santa luzia com o fantástico Sr. Louro e sua equipe está no seu segundo mandato e não irá compor o quadro de candidatos nas próximas eleições.
Sábado que vem iremos a Muruteua, outra comunidade do mesmo município, e assim continuaremos ate´percorrermos toda a rota luziense.
As fotos e filmagens de registro são feitas por mim e por Rodrigo Kauka.
Isabela do Lago.

sábado, 17 de julho de 2010

Carne revela






Ter uma ferida aberta no corpo
é uma dádiva do acontecimento
observa tua ferida aberta
verás como sou por dentro

A equação quadrática de rigor da matéria humana
aparenta a pele que cobre o corpo que por dentro é vermelho
o sub-item pele nada conduz ao teor existencial do corpo
pega um facão e te corta, homem
verás teu interior
Sou mulher, não careço me cortar
para me ver por dentro, basta um espelho

Mas gosto quando tenho feridas, vejo o sangue sinto o cheiro.

Só as mulheres são detentoras de uma fenda corporal mais profunda que a boca
Um homem que beija esta fenda
tem o bruto calor de quem sabe o que é amar a carne sem o artifício da pele
compreende o sexo enquanto facão
que perfura e revela a essência interior do corpo
vive o desejo
oposto e análogo ao prazer do suicídio.

Bela do Lago.



Fotografias minhas.

domingo, 30 de maio de 2010


nova maior

Tô na concorrência!!!



Pintura eu sei fazer, agora será que sei fazer projeto?
Oh, caramba!!! me candidatei a 05 prêmios na FUNARTE com o poética
de gente líquida, será que vai?
Este é um pedacinho do meu dossiê, afinal, já o venho construindo há bastante tempo.
Favor, desejar-me boa sorte!
Isabela do Lago.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Uma flor para a velha turca que se vai

Uma flor para a velha turca que se vai
e que tua carne sirva a fome dos camirangas

Foi longe o tempo que chegaste
lampião de querosene
lampião que permitiu tua entrada
nas terras da Contenda virada
chegaste lá enganada
menina tola com fitilhos murchos nos cabelos
cabaça dágua: bebe, criança ingrata!

Um dia eu vi aquela velha
Surrando jumentos surdos pela alvorada
perdida do pai, da mãe, dos tios
andarilha
chegaste no nada!

"Velha turca amaldiçoada"
gritavam peões fodendo as vacas
tristes
miseráveis
sedentos
raivosos
temerosos

De tua boca, palavras jamais caladas
menina tola, filha de gente desgraçada!

Plantaste tanto, colheste nada
até a memória se perdeu
levada pela enxurrada

do doce de leite
do arroz de carneiro
do amor que me deste
Tire já o dedo da boca!
Prende este cabelo!
Tome tenência!

chega de choro!

na noite de hoje
irei a alguma encruzilhada
vou deixar uma flor
pra velha turca desmiolada

Bela do Lago.

sábado, 8 de maio de 2010

Maria balnça enquanto a porta chega



A porta grande e branca!
devo mesmo tirar as ferragens?

Entre as chuvas e o nada!


O que fazer disso tudo que temos a fazer?

Resolvi concordar com a lindíssima colega de profisão, Lucimar Bello, que costuma dizer sempre por aí que "o ato de imaginação é um ato performático", e ainda arrasa com a gente quando grita na nossa cara com formas e cores que "precisamos ser irreais para sermos reais - que é o desejo de realizar uma situação imaginada tornar-se real".
Nesta fase líquida de meu trabalho, tenho solidificado desejos antigos, como o de conhecer mais de perto a ritualística afroamazônica, como o desejo antigo de fazer teatro no teatro, e de expor pintura numa galeria, e como se não fosse ainda o suficiente, minha antiga vontade de que as pessoas vejam coisas diferentes da TV, ando vendo filmes, e vendo filmes e pessoas em cineclubes.
Viu só, teatro-pintura-poesia-cinema, podemos todos recorrer ao ato imaginativo e irreal para chegarmos ao real-idealizado, ou algo perto disso.
Cumprirei minhas metas até o fim deste ano, depois de pintar a primeira porta já ganhei duas portas, dois amigos, que amo muito não porque sejam pessoas muito amáveis e sim, porque as dores da vida me ensinam a amá-los, hoje, um deles veio aqui, trazer uma porta branca e disse-me: depois entregue as fechaduras!
Então, tá, chicó, me dá um portal para que eu adentre em mais um rito de passagem, eu entro na porta, e depois não tenho fechadura? Então não tenho mais volta?
Já o ouro amigo, continua em poder da porta que me deu, pediu que eu lhe dê algo que a substitua... sem comentários, Arthur! Tens toda razão, não posso exigir nada daquilo que eu mesma não consiga retribuir, assim se vive.
No ultimo encontro do GTU, trabalhamos mais um dos distanciamentos de Ionesco, desta vez, usamos alimentos para travar a fala nos diálogos teatrais, eu que não levei alimento, fiquei no meio de um montão de gente falando com a boca cheia, se cuspindo e se vomitando, e querendo fazer aquilo também: muda, e de boca vazia! Quando eu resolvi abrir a boca pra falar, o ator que estava de frente pra mim, gritou, e assim cospiu uma gosminha de farelos de bolacha que obviamente caiu dentro de minha boca e me senti imediatamente saciada.
Sobre os distanciamentos todos de Ionesco, tenho pensado muito sobre a cidade em que vivo, e na tentativa de bloquear os sentimentos por esta cidade... bem.. achei prudente por um trecho do projeto "Portais em Conexões com Gente Líquida..." expondo
meu desejo de identidade e territorialidade.

SEGUE:

Nossa gente é líquida, vive em Belém do Pará, entre as chuvas e o nada.
Cresci em residência perto dos rios, mares, tempestades e igarapés, e hoje percebo que nós, paraenses, nadamos num mar de preconceitos, seja o preconceito do país - Brasil em nossa direção, como se não fôssemos brasileiros, seja entre nós mesmos, uns aos outros. Estranhamos-nos em nossa pluralidade cultural, justo aqui onde o modelo de “progresso” implantado com a colonização branca até hoje trai a confiança de meninos e meninas, ofende e humilha a honra de homens e mulheres.
Somos campeões brasileiros no ranking da violação de direitos humanos, Belém, surge no tempo atual como uma cidade – cortina cenográfica que está localizada em frente ao rio-mar, ladeada pela favelização das comunidades rurais e cada vez mais distante das matas onde vivem os deuses da natureza que deveriam nos proteger.
Este trabalho pretende com a pintura alcançar toda a força de luta feminina contra as variadas formas de violência que nos são impostas diariamente, é um chamado a adentrar no compartimento privado da superação de traumas deixados pela violência de gênero. É, pois, dedicado as mulheres da Amazônia, e presenteado a todos os homens de todo o mundo.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Gente líquida em vídeo experimental



o PONTO NEVRÁLGICO DA DOR LÍQUIDA

Vivo em Belém do Pará, entre as chuvas e o nada.
Cresci em residência perto dos rios, mares, tempestades e igarapés, e hoje percebo que nós, os paraenses nadamos num mar de preconceitos seja ele do país - Brasil em nossa direção, como se não fôssemos brasileiros, seja entre nós mesmos, uns aos outros nos estranhamos em nossa pluralidade cultural, justo aqui onde o modelo de “progresso” implantado com a colonização branca até hoje trai a confiança de meninos e meninas, ofende e humilha a honra de homens e mulheres.
Somos campeões brasileiros no ranking da violação de direitos humanos, Belém, surge no tempo atual como uma cidade – cortina cenográfica que está localizada em frente ao rio-mar, ladeada pela favelização das comunidades rurais e cada vez mais distante das matas onde vivem os deuses da natureza que deviam nos proteger.

UM DESABAFO AO GTU

Resolvi meter num saco de gatos minhas ansiedades criativas e transformar meu diário de bordo dos últimos encontros do GTU em video. parece que consegui, muito embora, isto tenha mais haver com meu projeto de exposição de pinturas do que qualquer outra coisa, mas é pensamento meu, e faço o que bem entender com isso!
Estou revoltada, hoje choveu pra caralho, me atrapalhei no trânsito, cheguei na ETDUFPA com 30 minutos de atraso e não me abriram a porta pra entrar... e eu tinha tanto a dizer.
Não compreendem que trabalham com seres humanos? que chove? que trabalho? que filho? que projeto? que vida louca todos temos nesta droga de metrópole da Amazônia?
Além do mais, não temos os contatos da coordenação, ao menos eu não tenho, mando mail ao Ives e ele nem responde... então o elenco é o que?
SEJAMOS DIGNOS DE NÓS MESMOS!!!

POESIA ÚMIDA PARA REGISTRO AUDIOVISUAL

desequilíbrio antes do entardecer
em guarda a chuva cai
para me defender
então ferve uma parede ôca
entre o pulmão e a boca
solta o ar
de dentro da terra louca.

Assista ao vídeo experimental em http://www.youtube.com/watch?v=8JqNQt5oqh0

Isabela do Lago.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Dor de cotovelo bombando ou mistérios contidos em sai de perto que eu mordo!


Hoje não comecei bem o dia... o ar condicionado do escritório explodiu, quase morri com a fumaça, isso às 8 e 30 da manhã tava tudo pegando fogo. Detesto essas coisas, detesto ar condicionado!
Por que as pessoas não se rendem ao calor? ou simplesmente, porque não abrem as janelas? Melhor deixar este assunto pra lá, vamos ao que interessa:

Poesia número cinco

O gato "A" tenta obstinadamente subir a parede
parede vertical
gato horizontal
O bichano pula
arrasta as garras
cai
O gato "B" senta-se tranquilamente na almofada
observa
lambe patas
lambe barriga
rabo bate no chão

Momento in-verso
Gato "A" cai em cima de gato "B"

mIAAAUUUU!!!!

Bela do Lago

quarta-feira, 14 de abril de 2010

teatralizando o audiovisual




Faltei o GTU na quinta dia 8 de março, preciso dizer isso aqui!
O registro ou a prova do crime está neste vídeo http://www.youtube.com/watch?v=sCk3uBpgsMU&feature=autoshare, não tenho como negar... mas posso explicar!

http://www.youtube.com/watch?v=sCk3uBpgsMU&feature=autoshare
Viram?
então vou prosseguir:
Estou participando das articulações do FAAL - Forum Audiovisual da Amazônia Legal conforme se vê, temos uma rede ning http://www.redeaudiovisualnorte.ning.com/
para discutir isso, foi marcada uma VIDEOCONFERÊNCIA no auditório do BASA com o Pará mais ou representantes dos outros estados da Amazônia: Acre, Amazonas, Pará, Rondônia, Tocantins, Mato Grosso e Maranhão. Uma discussão política pra alinhar propostas, pensamentos, necessidades da produção audiovisual... enfim.
O fato é que identifiquei problemas relacionados a enteresses mesquinhos, pessoais, poder, e coisas que vão de encontro aos reais interesses do FAAL, interesses nada democráticos, e resolvi protestar, fiz uma interferência cênica.
Naquele ambiente cheio de pessoas formais, posturas e imposturas forçosas, na hora de fazer minha fala, fui lá pra frente e reproduzi uma adaptação (livre/minha) da aula de Foucault sobre O PODER PSIQUIÁTRICO de 7 de novembro de 1973, destacando os conflitos entre diferentes atores no espaço manicomial descrevido por FODÉRE no século XIX. jÁ QUE O PRÓPRIO AUTOR, foucault, descreve isso como quem descreve uma cena teatral, ele mesmo usa o termo "cena", fiz este paralelo com a situação vivenciada.
Resumidamente, quando isso tudo acabou já eram 18:40 horas, não ia chegar a tempo na ETDUFPA, mas fiz meu teatrinho básico. E parece que deu certo!
Bela do Lago.

Meu queridodiário de bordo

http://resistenciamarajoara.blogspot.com/2010/04/de-volta-soure-com-muito-orgulho.html

Estas idas e vindas ainda acabam comigo!
Amanhã tem teatro de novo, mas antes vou estar na UEPA, numa mesa redonda (?) falando sobre a experiência do audiovisual no Marajó.
e depois, retorno a Soure para lançar os filmes do projeto lá!
Ai ai!
Marajó mudou minha vida, interfere no meu ritmo, e agora com o teatro... eu gostaria tanto de levar esse sentimento amazônida ao teatro! Será que vai ser possível, espero conseguir.
Me sinto um barco.
espero não naufragar.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

GTU - Diário de bordo n°02




Tenho dançado sem música... não tem dado muito certo, mas registro aqui, no percurso da revivência teatral porque, isso faz parte do meu cotidiano desde que começaram os encontros do GTU - até minha filha, a borboletinha tá comigo nesta tarefa. Eu e ela nos divertimos muito com isso.
Isabela do lago e Maria Clara do Lago.

DIÁRIO DE BORDO - GTU

Digo GTU ao grupo de teatro universitário, da ETDUFPA - Belém, na qual me enfiltrei como uma uma verme maldita.
E agora, Isabela? me pergunto o tempo todo... "voltaste a cena?"- esses questionamentos que me faço são ridículos, eu sei, mas neste momento, altamente necessários.
1- Porque desde os 16 anos de idade que me incantei pelo fazer teatral, quando fiz um curso com João Queiroz;
2- Já tenho 32 anos e nunca consegui me entregar plenamente ao teatro, sempre mediado pela dança ou pelo figurinismo... impróprio debater isso agora.
3- Porque eu mereço fazer algo que seja o que eu realmente quero fazer, só porque tenho vontade de fazer. Entendeu? não? deixa pra lá...
Me importa que me senti muito bem fazendo aqueles exercícios, adorei a equipe, as colocações da Wlad são sempre fantásticas, e quero me jogar neste jogo!
(escrevi isto no dia 23 de março, mas estou publicando só agora).
Isabela do Lago.

Teia - tambores digitais?

http://www.youtube.com/watch?v=fVKjKce9eog

FUI AO TEIA – TAMBORES DIGITAIS E ME SENTI MUITO BEM NO MEIO DE TODA AQUELA CONFUSÃO.
Participei da mostra artística(dias 25 a 29 de MARÇO/2010 EM fORTALEZA-CE) levando dois filmes do projeto Resistência Marajoara, o documental “FESTA DA COBRA” e o Vídeo-teatro “Sucuriju: o Suspiro da princesa encantada”, ambos realizados em Soure no ano de 2009.
A projeção foi excelente, apesar de o pessoas por lá se atrapalhar com datas, títulos e públicos, ou seja, com tudo! Por este motivo, misturaram com a sessão de filmes infantis, e lá estavam as crianças dos pontinhos assistindo a um vídeo institucional do programa CULTURA VIVA de quaze 1 hora de duração (que esvaziou a sala), depois muitos documentários adultíssimos sobre os mais variados e absurdos temas, até que finalmente, chegou minha vez (digo... nossa vez já que ali eu representava uma coletividade): Resolvi interferir para acordar os sobreviventes da mostra, que somavam um total de 6 crianças e 8 adultos, escolhi uma foto bem bonita de Soure, inverti o foco do projetor e fiz um teatro de sombra, em diálogo eu e uma máscara contamos a estória da Sucuriju, tal e qual ouvi mestre Hilário contar.
A isto, teatro de sombra, uma senhora da platéia categorizou como “quaze cinema” adorei o termo, as pessoas ficaram muito curiosas a respeito da mítica das cobras e depois de projetar o video-teatro, também rolou “a festa da cobra”, a galera gostou bastante, no saldo disso tudo fiz 08 cópias destes filmes para as pessoas que me pediram.
Isabela do LagoB

domingo, 14 de março de 2010

Gente líquida em águas de mariana

Foi uma longa viagem a de voltar para casa esta noite. Eu vinha de barco, mesmo estando a bordo dum ônibus Marex Arsenal. Vinha de barco.
E nesta longa viagem eu olhava pela janela do ônibus (que era barco) e não via os carros, não via os prédios, não via a rua. Durante quarenta e alguns minutos eu ali, dentro do ônibus, sentada.
Imóvel e Surda na aparência. Dançando e cantando na consciência.
É que por dentro eu tinha um grito, dois suspiros e um sorriso. Nem sei dizer se isto foi uma embriaguez ou se estava mesmo atuada, mas posso afirmar aqui para todos que fui tomada por alguma espécie de tranze quando fui ao teatro Cláudio Barradas assistir ao espetáculo “Águas de Mariana” do Grupo Experimental de Teatro GeMtE, e quero com esta escrita compartilhar minha alegria e propor que vocês troquem de coração comigo, assim como propôs uma das atrizes ao público durante o espetáculo, afirmando que nossos corações todos pulsam iguais e no som do toque do tambor na mina, como pulsa o coração da cabôca Mariana. Durante o espetáculo, as atrizes desmontam repentinamente e dirigem-se ao público para relatar experiência pessoais, falar sobre a pesquisa, ou oferecer um aluá, e em seguida voltam como se nada tivesse acontecido.
No desenho de cena há um enquadramento verticalizado, muito comum na configuração dos terreiros, que dispõe tambor e abatazeiro ao fundo, e o público acomodado nas laterais, direita e esquerda, para que ao centro, bailem os deuses e as deusas. Nesta montagem também há um apelo multisensorial com odores e sabores peculiares a umbanda, mas entra neste jogo também o recurso audiovisual que contribui para a socialização das falas de pais e mães de santo a respeito da fabulosa entidade. Tudo muito bem resolvido cenicamente, exceto a luz, esta um pouco problemática em relação ao desenho de cena, pois unifica demasiadamente os planos, vê-se o tudo e o nada deixando a leitura visual direta e didática demais, achei que não deu muito o clima da encantaria que é sempre muito misteriosa.
O trabalho de corpo das “Marianas” é digno da cabôca: Fluência firme, extensão e tonicidade bem marcada com uma alternância entre os níveis posturais em plano alto a médio, raramente usam o plano baixo (levitação incomum na dramaturgia contemporânea). E como se não bastasse, duplicam a figura da entidade que antes era princesa, depois de encantada é arara e marinheira. Nem viva nem morta, paira entre o céu das matas e a imensidão do mar e de vez em quando entra num corpo de alguém para ter a vivência terrena da ritualística amazônida.
Nesta multiplicação vertiginosa de duplos artaudianos, as duas atrizes interpretam a mesma personagem dialogando entre suas faces profanas uma metáfora de mãe que sacraliza a figura da mulher brasileira com autêntica poeticidade cabocla, e muito distante daquela visão de mãe da santa Maria sempre no céu, que segundo as vozes cristãs emprenhou sem sexo, entregou toda a vida ao próprio filho e sofreu muito por vê-lo sendo crucificado, e depois disso? Eu não sei responder o que aconteceu, sei que ela virou santa e foi pro céu, e olha para baixo com o olhar sempre piedoso a seus filhos.
Em mariana, há uma mãe que desce a terra para cuidar de seus filhos, olha-os nos olhos, sorri, dança, canta sua postura é sensual, elegante, vaidosa, alegre e austera constantemente se afirmando na dignidade feminina absoluta e inabalável ela é marinheira, segura o leme e não deixa o barco virar!
Tão encantada quanto tantas mulheres que conhecemos no nosso dia a dia, ela cura e aconselha nossa gente sempre tão carente e abandonada, talvez isso faça de Mariana uma das entidades mais cultuada nos terreiros. Em cena, as atrizes mostram a mariana curandeira que é uma arara cantadeira, deixando a gente chegar perto dos segredos da mata, ouvindo pássaros, catando folhas e voando com os pés no chão. A outra, é a marinheira revoltosa, que viveu horrores da guerra e devastação de seu povo, enfrenta as marés, as tempestades e tem o poder de guiar vislumbrando sempre os horizontes.
“Águas de Mariana” me fez pensar no quanto é importante que a gente se reconheça na cultura popular através da arte, e no quanto ainda precisamos trabalhar muito para vencer as barreiras do preconceito amazônico, e que bom que tem gente poetizando nos cultos afro amazônicos e revigorando nosso precioso conhecimento herdado de gerações outras sem medo, sem amarras, sem sensuralismo disfarçado, diante de um mundo de estereótipos e artificialidades dos grandes veículos, com a face desnuda dos véus da mediocridade capitalista, e sim como a vontade e a força de nos afirmar cultural e socialmente com as bênçãos da cabôca Mariana.

Espetáculo “Águas de Mariana”
Realização do Grupo Experimental de Teatro GeMtE
Hoje às 20 horas no teatro Cláudio Barradas – Quem vai de branco paga meia entrada.

Ficha Técnica

Marianas: Keila Sodrach e Lú Maués
Consultoria Cênica e concepção de figurinos: Aníbal Pacha
Direção Musical: Edson Santana
Preparação Corporal: Guilherme Repilla
Design de Luz: Neuton Chagas
Iluminação: Milton Aires
Maquiagem: Cláudio Didima
Arte, Filmagem, Fotografia e Vídeos: Emerson de Souza
Preparação Vocal: Vilma Monteiro
Confecção de Figurino: Sheila Gomes
Francisco Leão: Desenho
Design gráfico: Jesus Brabo

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Mar, rios, chuvas, igarapés e pessoas: almas líquidas





Nossas terras tem superfície extremamente aquosa, generosamente banhadas de rios, neste universo úmido bailam saberes de homens e mulheres que apredenderam a viver ao sabor das águas que banham o imaginário de nossa gente dimensionando a diversidade de seres, cores, sons, movimentos, imagens e sentimentos que tonificam nossa identidade através dos tempos, em que nós, nortistas temos a alma líquida, estamos sempre por um fio, sempre à beira de naufragar nas margens da história brasileira.
Bela do lago.

Referencial mina-encantaria/MARAJÓ





Saberes místicos da cultura popular amazônida vieram com o contato dessas duas pessoas, na foto 1 caboca Mariana no couro de mãe Deusa em Soure, e eu entrevistando seu Hilário, também em Soure.

Abas as fotografias tiradas do blog do projeto Resistência Marajoara.
Bela do Lago

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