Isabela do Lago

Minha foto
Belém, Pará - Amazônia, Brazil
A natureza da coisa arte em minha trajetória ocupou lugar no que se diz opção profissional, nem sei dizer nada a respeito de vocação pois nunca ouvi o tal "chamado". Por toda a minha vida tenho cercado o ato de produzir imagens, sejam elas desenhadas, pintadas, fotografadas, filmadas, dançadas, cantadas ou aquelas que figuram mundos internos nas almas imersas em situações nada concretas, a realidade vem a partir da leitura de quem se presta ao ato existir. Intuição, paixão e o nada me tocam neste viver o sentimento criativo desde que sinto coisas que não vejo e procuro transformá-las em algo visível e para que isto aconteça vivencio a criação no momento dela - e depois a esqueço.

domingo, 9 de março de 2014

Nkudiá Girl




Neofacistas ruborizados, gangsters midiáticos emudecidos e neopentecostais formalistas aflitos, arrumem as malas e saiam da sala: Nós de Aruanda chegou em sua segunda edição, e já somos cerca de 50 artistas de comunidades de terreiro em produção colaborativa e imaginação performativa atuante, e já estamos há milhares de anos aqui, as pessoas só não sabem porque estavam ocupados demais com os pré-socráticos fatalistas.
Chegamos em paz em meio ao conflito do terreno burguês habitual da arte no estado do Pará, e me arrisco solenemente a dizer que nossa paz é feita de batalhas, já que inserir e legitimar a produção poética de matriz africana no circuito artístico local não é tarefa pequena, pois o racismo, camarada, nem sempre olha a cor de sua pele, ou o seu cabelo,o racismo à moda brasileira, te sorri em caps lock na porta de entrada de sua casa, senta no sofá da sua sala e depois adentra os cômodos mais íntimos, revira sua gavetas, olha dentro das panelas, aperta a bisnaga do cerme dental, queima seu livros, amaldiçoa seus santos, vomita na tua roupa de ração, parte tuas guias, quebra teus discos e depois ainda tem a cara de pau de cagar na tua privada e não dá a discarga. É assim que eu me sinto, todas vezes que um grupo de brancos sorridentes olha minha pintura, me sorri e depois cospe nela.
Mas esse modelo de arte-indústria-cultura-doxa não sabe, não pensa e não imagina que está a alimentar um ninho de vespas quando condiciona os vermes pálidos norte-americanos e europeus ao sentido da arte, não, eles não conseguem ligar os pontos e formar a letra, fomos criados neste mesmo sistema de reclusão infame que ensina os moldes deles e esconde nosso saber, portanto, não sabem que eu sei oque eles sabem, mas eles... ah, eles não sabem oque eu sei!!!
Quando eu menciono a terceira porta, Nkudiá Girl, eu sei quem é essa moça com a galinha, e sei da importância que tem nesta cena para os nossos rituais, mas eles só sabem que ela é uma moça segurando uma galinha, Nkudiá deixa que eu sei... Inclusive, sei que garota é girl, desde a adolescência porque a mídia brasileira é burra burra e sabe falar mais o idioma Inglês do que qualquer outra coisa, e eu fui obrigada a aprender essa porcaria. Eu sei louvar a natureza quando boto meu pincel em ação, eles sabem demonizar a natureza mostrando ódio, repulsa e pavor.
Eu sei que meu corpo é sagrado e abriga muitas forças, eu sei pintar, a própria academia me mostrou que esse é um estilo de pintura da arte, dita universal, mas faço isso com o uso do meu corpo que é singular. Eu sei pintar em companhia de Mavambo, Oyá e Nkossi.
Eu não preciso odiar, já os conheço bem, sei bem do que são capazes completei minha tríade onde uma se banha, outra se abana e outra se vai, vira-se para trás mas não te olha, eu sei que o que ela viu vai impulsionar sua caminhada.
Eu não preciso odiar, preciso apenas continuar aprendendo. Eu sei que aprender é um ato revolucionário, nossas mães de santo nos ensinam isso diariamente.
Saravá!!!
Isabela do Lago.