Isabela do Lago

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Belém, Pará - Amazônia, Brazil
A natureza da coisa arte em minha trajetória ocupou lugar no que se diz opção profissional, nem sei dizer nada a respeito de vocação pois nunca ouvi o tal "chamado". Por toda a minha vida tenho cercado o ato de produzir imagens, sejam elas desenhadas, pintadas, fotografadas, filmadas, dançadas, cantadas ou aquelas que figuram mundos internos nas almas imersas em situações nada concretas, a realidade vem a partir da leitura de quem se presta ao ato existir. Intuição, paixão e o nada me tocam neste viver o sentimento criativo desde que sinto coisas que não vejo e procuro transformá-las em algo visível e para que isto aconteça vivencio a criação no momento dela - e depois a esqueço.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A idéia radical do feminismo Icamiaba




No Lago – Olha, cabôca, finalmente deu tudo certo com a mocinha lá na Santa Casa, ela fez o procedimento, tá um pouco fraquinha, mas passa bem, voltou pra casa dela, espero que aquele um “amigo” não a procure, porque de todo o aparato que chamam de aquelas coisas... “o Estado defende” ninguém ofereceu segurança pra ela, não.

Entre as Torres e o Aleixo - As delegacias da mulher, as casas-abrigo, os centros de acolhimento, a Lei Maria da Penha, bem como as promotorias de violência doméstica e setores especializados em violência contra a mulher em defensorias públicas, são conquistas dos movimentos de mulheres/feministas.
Essas vitórias decorrem de anos de uma luta que, entre outras palavras de ordem, tinha como lema “o pessoal é político”, ou seja, a esfera privada e a família são lugares onde fluem relações (desiguais) de poder, a sociedade e o Estado, devem olhar para isso, a fim de ajudar na instauração do paradigma da igualdade. Para tanto, durante muitos anos – e ainda hoje, com menor intensidade – foi estratégia feminista denunciar os casos de violência contra a mulher que, ou eram abafados como “problema de família”, ou tinham seus algozes absolvidos pelo argumento da “legítima defesa da honra.”
Além disso, as mulheres, na falta de políticas públicas, começaram a criar redes próprias para amparar aquelas em situação de violência. Nesse contexto, ficaram conhecidos os SOS –Mulher, principalmente o de São Paulo, que nada mais eram que a aglutinação de movimentos feministas, que captavam ( poucos) recursos públicos, criando um centro que recebia/acolhia mulheres que estavam sofrendo violência. Porém, tais centros funcionaram durante poucos anos, e devido a diversos problemas (com o financiamento e com os movimentos), fecharam as portas.
No Lago – Sim senhora, não descordo a merecendência do movimento social feminista, e esta é uma luta que ainda não acabou, mas quero mesmo é te contar, que na situação da dona coisinha lá (que eu não posso caguetar o nome), tudo se resolveu depois de imprensarem a moça contra parede umas tantas vezes durante a madrugada de internação, rolou a maior desconfiança, mana: off course que a moça tava só & zinha, e neste caso eu também. Explico: Tu te lembras, Aleixo, que noutro dia eu mesmíssima, tu, mais aquelazinha Luana, a Leila e um montão de mulheres fomos lá na Avenida Presidente Vargas? (vê, nome inglório pra uma rua tão importante que abrigou nossa Marcha das Vadias, tá vendo? Vai anotando aí!). Isso é movimento social feminista, né? Pois é, como eu tava só com minha filha de 4 aninhos, não podia acompanha-la no hospital, mana, eu fiquei doida, procurei essas mulheres que fizeram uma linda passeata, e todas estavam ocupadas(numa sexta-feira a noite, né), teve gente até que se justificou pra mim com a tala da desconfiança se era ou não real a conversa da companheira, e teve gente que conseguiu me dizer que não achava legal ir porque era um assunto particular dela. Ah, eu falo é mesmo!!! E olha que o caso foi estupro, baby.

Entre as Torres e o Aleixo - A professora Maria Filomena Gregori, no seu famoso estudo Cenas e Queixas – um estudo sobre mulheres, relações violentas e a prática feminista, pôde acompanhar os atendimentos feitos no SOS- Mulher de São Paulo até a sua reunião final e identificou, entre outras coisas, que o medo de parecerem, nas palavras das militantes, “assistencialistas”, fazia com que não amparassem devidamente muitas mulheres que procuravam ajuda. Segundo Gregori, o que parecia ser mais importante para as feministas do SOS- Mulher paulista era que as mulheres “tomassem consciência de sua opressão” e com isso saíssem das relações violentas nas quais estavam inseridas.
Ora, o que a vida real mostrou era que nem todas estavam dispostas a lutar por igualdade, a se tornarem feministas e romperem com uma série de barreiras e estereótipos colocados às mulheres: queriam apenas parar de sofrer violência. Para isso, infelizmente, as feministas não estavam ajudando tanto, de acordo com as reflexões de Gregori.

No Lago – Repito, foi estupro. E nem feministas de carteirinha, nem redes de contato in_formal, nem polícia, nem Maria do Pará, nem a família. NINGUÉM!!! Mas tá bem, continue...

Entre as Torres e o Aleixo - Após o “período dos SOS” o que se viu foi boa parte do movimento feminista saindo das ruas e indo formular/influenciar políticas púbicas. A tática parece render frutos até os dias atuais, uma vez que a Lei Maria da Penha fez cinco anos de vigência há poucos meses. No estado do Pará, por exemplo, há dez delegacias da mulher, há o Centro Maria do Pará, responsável por oferecer apoio psicológico, pedagógico e jurídico às mulheres em situação de violência e é presente em mais quatro municípios além da capital.
No Lago – Aqui fala alguém que trabalhou no Maria do Pará, aliás, alguém, parte da equipe que inaugurou o primeiro ano de trabalho naquela casa, no nosso tempo, não tinha verba pra pirotecnias vanglorísticas, mas a gente nunca deixou nenhuma mulher se lascar sozinha, antes pelo contrário...
Entre as Torres e o Aleixo - Poderiam ser listadas muitas outras políticas, mas o que importa é que o fato de elas existirem e serem executadas mostra que o Estado e, por conseguinte, a sociedade, reconheceram que a violência contra a mulher é um problema sério, que atinge a dignidade de todas nós e deve ser resolvido. Ou seja, é uma vitória das mulheres!
No Lago - Esta vitória conseguida após mais de 100 anos de feminismo, mas vamos refletir, vem sendo descartada por pessoas reais, pelas próprias mulheres. Que nos momentos mais críticos, esquecem que existe vida além da institucionalidade. O caso Mulher x Institucionalização feminista é mais grave do que os maus tratos e o descaso nas DEAMs, Abrigos e Centros de Referência (falo mesmo do Maria do Pará – Belém), ainda há a problemática falta de conhecimento de todos e todas pela causa. Estamos vivenciando um maldito revés, onde a mulher que sofre violência é, antes de tudo criminalizada, além de vivenciar estupro, tem de passar por traumas quando procura ajuda, tanto quando vai denunciar procurando seus direitos, quanto quando procura sua rede de contatos in_formais (amigas, familiares e tal, e tal...). É nesse momento que se estabelece um diabo de caos. Na vida prática, maninha, a Escolástica é uma vasilha de nada com nada dentro. E eu sei bem de onde é que vem tudo isso.
Entre as Torres e o Aleixo - Porém, o medo do “assistencialismo” ainda parece rondar a prática de muitos movimentos e mulheres feministas. Para estes, o essencial ainda é esclarecer as mulheres quanto a sua opressão, depois disso “tá tudo resolvido.” Porém, acredita-se aqui que as duas vias são importantes, afinal, garantir a dignidade das mulheres não é lutar pela igualdade? Não é ser feminista?
No Lago – É sim, mas dá pra socorrer a pessoa que tá em situação de alto risco, de preferência antes que ela morra? Dá pra acreditar em transgressões, sejam elas individuais ou coletivas, que não venham acompanhadas de alguma ternura?
Entre as Torres e o Aleixo - Por isso, precisamos estar unidas sempre, manter uma rede de mulheres aptas a ajudar umas as outras. As políticas públicas e tudo o que foi institucionalizado para dar cabo da violência é importante, executa ações, mas pode falhar. Ou nem mesmo isso. Por ser aparato do Estado muitas vezes não dispõe de companhia, ombro, colo, que é o que uma companheira pode dar à outra, quando se passa por situações que nós mulheres sabemos o quanto são difíceis. Caso o sistema falhe, onde estarão as companheiras para estender a mão?
No Lago – Era justamente aí que eu queria chegar, Aleixo, aliás até te agradeço o apoio que você nos deu. Y en nombre de este amor, que eu costumo confundir amor e solidariedade nessas horas (tenha paciência comigo, sou artista), saiba que aos 40 minutos do segundo tempo, quem me ofereceu a mão foram duas comparsas de minha escola de Direito feminino, Ediane Jorge (que segurou minha filha pra eu poder entrar no hospital) e Jureuda Guerra que, já no domingo estava de plantão lá??? (e olha que a história todinha começou desde a segunda feira). Viu, existe vida, existem seres humanos em sofrimento para além de toda a institucionalidade. Ora veja só você, se tem lá alguma graça, a gente querer revolucionar anos e anos de machismo-cristão-ditadura política sem se envolver pessoalmente com as causas, então agora o papel é só do Estado, ah, que se foda esse mundo burocrata eu quero é ter confiança na companheirada toda!

Entre as Torres e o Aleixo - Ao que parece, precisamos de uma espécie de “SOS- Mulher em rede”, formado por mulheres prontas para ajudar as outras, independente da existência de delegacias ou quaisquer centros. As discriminações que sofremos quando passamos por situações de violência nenhuma lei ou política consegue fazer acabar. São essas discriminações/ preconceitos que nos impedem, por exemplo, de ir à delegacia fazer ocorrência, mesmo quando ela existe ( e que bom que ela existe!). Sempre vejo nos cartazes que “o feminismo é a idéia radical de que as mulheres são gente.” Vamos colocá-la em prática!
No Lago – Agora você falou & disse uma fala bem bonita, mas eu não vou te deixar encerrar a conversa assim não. Por falar em “prática’Baby, vamos repensar a prática do nosso olhar, é que vivemos o inferno dum olhar alheio que traz a imutabilidade e a perda de liberdade do existir e, consequente-mente, do ser (!!!) há muitos olhares sobre a Amazônia. Há muitos olhares sobre a mulher amazônida, como se esta fosse incapaz de expressar ou compreender seus sentimentos y ninguém discute a inter_ferência branca(e ponha ferência nisso!) na nossa cultura cotidiana, isso vai dar mangas nos nossos panos, aviso: aqui onde o modelo de “progresso” implantado com a colonização branca até hoje trai a confiança de meninos e meninas, ofende e humilha a honra de homens e mulheres.
Escuta aqui, somos campeões brasileiros no ranking da violação de direitos humanos, as pessoas precisam parar de fingir que com as políticas públicas já está tudo bem, aqui em Belém, nessa uma cidade – cortina cenográfica localizada em frente ao rio-mar, de banda pra favelização das comunidades rurais e ribeirinhas e cada vez mais distante das matas onde vivem os deuses da natureza que deveriam nos proteger (canta pra chamar teus ancestrais, gatinha, e ouve, eles vão te dar a maior pressão).
Então, minha nêga se este tal de povo que pensa que tudo é política, não começar a pensar que existe cultura, e que quando se fala em cultura não dá pra pensar em bom e mau, certo e errado, ou feio e bonito, nunca vamos poder contar com nadica de nada. A luta corre o risco de andar sempre pra trás mesmo. Bora adicionar coisas ás coisas todas, pra mexer, pra balançar, que ler cartazes dizendo “O feminismo amazônida é a idéia radical de que as icamiabas são gente, porra!!”

-Entre as torres e o Aleixo é Mariah Torres Aleixo, estudante de Direito e Ativista do movimento Feminista em Belém.
- No Lago, ora sou eu. Quem já me lê, sabe muito da minha lida.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Herança do gatilho

Mais fotos neste álbum https://plus.google.com/u/0/photos/114332809175617735630/albums/5494964550088177201 Série fotográfica produzida para o jornal Expresso 47 de Santa Luzia do Pará, com o objetivo de reconstruir através da memória da comunidade uma matéria sobre a vida do legendário Gatilheiro Quintino da Silva Lira que nasceu no município de Augusto Correa em 1947 e foi morto pela polícia em combate no complexo CIDAPAR em Viseu no dia 4 de janeiro de 1985. As imagens que não foram publicadas na matéria veiculada no mês de Agosto de 2011, trazem retratos das famílias que conviveram com Quintino e contribuíram com o jornal. Ele se transformava em onça, em folha, em tronco e até escondia-se atrás de um facão pra escapar das emboscadas, dizem que conseguia isso graças a uma oração de encantamento que lhe foi dada por uma macumbeira do Codó (Maranhão). Foi preciso percorrer a zona rural da região do alto rio Guamá no nordeste paraense, visitar comunidades quilombolas, assentamentos e demais vilarejos, entrar nas casas e conversar com as pessoas para conhecer as muitas histórias deste nosso guerreiro, entrando em contato com a herança viva de uma tragédia patrocinada pela ação do Estado e sua política de favorecimento do capital que autoriza a violência da empresa CIDAPAR e de poderosos latifundiários sobre os camponeses da região. A fotografia por si não se basta, foi necessário conversar com estas pessoas, conversar mesmo no sentido de perfazermos a nossa experiência com a experiência delas, estas imagens guardam um passeio na linha do tempo, sempre entre cercas de fazendas e comunidades cada vez mais reprimidas. 26 anos depois da morte do gatilheiro Quintino ainda há resistência cultural e social, se nosso herói não tivesse passado por aqui e trocado sua vida, sua alma e seu coração por abrigo e munição, talvez esta gente nem mais existisse. A herança do gatilho é a consciência da própria dignidade na luta infinita pela existência. Isabela do Lago.

sábado, 22 de outubro de 2011

Grande invenção Oiticicante

Não existe idéia separada do objeto, só existe o grande mundo da invenção
b> Gosto desta fala do Hélio (aquele um que é Oiticica) exata_mente porque começa com a palavra NÃO, onde vejo a des/re/pós_construção de uma afirmação anterior@mente convencionada da existência de uma idéia. Tal & qual o hábito mal_ditcto de produzir imagens, falo de desenho e fotografia. Na invencionice do desenismo podemos des/re/pós_construir conceitos, práticas, posturas, imagens e tudo o mais que cerca o mundo em que habitamos, um eterno-etéreo nú descendo as escadas em noite de chuva sem luz, internet, telefone, ou mesmo alguém do mundo dos vivos pra reclamar. Esta semi-matéria em des_construção nos oferece, portanto, algo além do argumento, um tipo estranho de autoconhecimento com status de conhecimento social (só_cial) além da velha relação de causa y efeito, nossas experiências significativas são plurais e complexas, com nossas estradas per_cor_ridas, com nossas trilhas perceptivas bem untadas pelo suor de nossos rostos e também com o perfume do suor dos corpos que nos acompanham.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Gatilho e coração


("lavadeira no alto rio guamá", comunidade de Jacarequara - sta luzia do pará foto:Isabela do Lago, 2010)

Quem quer trocar meu coração
escondo atrás de um facão
Quem quer trocar meu coração
por amor, comida e munição

Viver plantado neste chão
faísca, tiro e batalhão
quem quer trocar meu coração
por amor, comida e munição
em troca meta os pés no chão
ande bonito e com paixão

minha gente não tem tostão
mas tem gatilho e compaixão
fazendo guerra com barão
trocando o sangue pelo pão
rio guamá terra de cão
onde eu perdi a oração
onde eu troquei meu coração
por emboscada e frustração.


quarta-feira, 21 de setembro de 2011

CONTRA A VIOLÊNCIA E PELOS DIREITOS HUMANOS DAS MULHERES: A RESPONSABILIDADE DO ESTADO E DE TODA A SOCIEDADE TAMBÉM É EXTRAMUROS!






Nós, do Fórum de Mulheres da Amazônia Paraense, da Articulação de Mulheres Brasileira- AMB, Sociedade Paraense de Direitos Humanos- SDDH, MAMA, Rede Feminista de Saúde – Rede Saúde, União Brasileira de Mulheres UBM, Centro de Defesa da Criança e do Adolescente CEDECA/EMAÚS, e, outros parceiro@s da luta CONTRA A VIOLÊNCIA E PELOS DIREITOS HUMANOS DAS MULHERES que também assinam essa nota, compreendemos que a sociedade civil organizada tem o direito e a competência de, debater, propor e formular políticas que contribuam com os gestores na concretização de um novo modelo de Segurança Pública inclusiva para o Pará. E que também é nossa tarefa cotidiana o acompanhamento das situações de violação dos direitos das mulheres e meninas no nosso Estado.
Por isso, as instituições aqui representadas vêm a público externar seu repúdio diante da denúncia de violação de Direitos Humanos, estupro e exploração sexual vivenciada pelas adolescentes, dentro de instituição estatal de recolhimento de presos, a Colônia Agrícola Heleno Fragoso, em Americano/PA.
O Brasil assumiu as decisões das Conferências Internacionais da ONU, realizadas na década de 90, de fundamental importância para os direitos humanos das mulheres. Em especial, a Conferência Mundial dos Direitos Humanos de Viena (1993), a Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento do Cairo (1994) e a Conferência Mundial sobre a Mulher - Beijing (1995), que especificaram os direitos de igualdade de gênero.
Foi em Viena que, pela primeira vez, se reconheceu expressamente que os direitos humanos das mulheres e meninas são parte integrante, indivisível e inalienável dos direitos humanos universais e que a violência de gênero é incompatível com a dignidade e o valor da pessoa humana.
Outros dois importantes tratados internacionais, que relacionam os temas de discriminação e violência contra as mulheres, num contexto de proteção especial são: a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW, ONU, 1979), ratificada pelo Brasil em 1.º de fevereiro de 1984, que garante a defesa em âmbito mundial; e a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (Convenção de Belém do Pará, OEA, 1994), ratificada pelo Brasil em 27 de novembro de 1995, que define os parâmetros nacionais para o problema.
Não se analisa, nem se dá solução aos contextos de violência urbana - violência estrutural pela precariedade das condições de vida, insuficiência de equipamentos e serviços públicos, interdições ao direito de ir e vir das mulheres no espaço da cidade, à presença da violência ligada ao tráfico e à violência policial nas cidades do Pará especialmente em Belém.
Assim, assistimos a violência relacionada ao tráfico de seres humanos, à exploração sexual de mulheres e meninas, cujo Brasil ocupa rankings vergonhosos; sobretudo a região Norte e Estado do Pará em particular, que convivem com a impunidade de políticos, juízes, milícias, e policiais envolvidos.
Entendemos que são graves e chocantes as denúncias do Conselho Tutelar de Belém, sobretudo em virtude de que o fato teria acontecido dentro de uma instituição pública e de responsabilidade do Estado. No entanto, não podemos deixar de nos posicionar quanto a uma questão que não se encerra no fato de que o crime teria acontecido porque não havia, na colônia agrícola, um muro de contenção para a entrada de pessoas; muito menos no fato de que a situação estaria resolvida apenas com a responsabilização (que é necessária) dos agentes e pessoas envolvidas.
Queremos dizer com isso, que infelizmente para além dos muros, ou da construção de um muro, o problema centra-se na violência sendo utilizada como instrumento de dominação dos homens sobre as mulheres - presente em nossas vidas; como realidade ou como ameaça e possibilidade constante através de humilhações, xingamentos, piadas agressivas, utilizando o medo, o constrangimento, agressão verbal, física e sexual, sempre que lhes parece necessário individualmente ou como grupo.
Queremos chamar atenção aqui para a responsabilidade e o compromisso político e social por parte do Estado do Pará em efetivar políticas públicas para as mulheres para erradicar todas as formas de violência, pois os últimos fatos envolvendo estas meninas estupradas dentro da Colônia Agrícola Heleno Fragoso vai contra todos os direitos humanos preconizados nas convenções internacionais acima referidas, em relação à violência contra as meninas e mulheres.
No caso dessas meninas que sofreram estupro em um espaço prisional do Pará nos perguntamos onde estavam os agentes de segurança púbica que deveriam estar monitorando e exercendo a função para a qual são pagos pelo Estado. Também indagarmos sob a função e monitoramento dos espaços prisionais e administração do setor de segurança do Pará, também nos perguntamos sob o abandono de finalidade da colônia agrícola. O fato é estarrecedor, pois a ação divulgada pelos meios de comunicação vai além da violação de direitos das adolescentes.
Mais lamentável ainda é sabermos que fatos da gravidade do acontecido, ocorrem corriqueiramente nas casas prisionais e fora delas – o que não exclui a responsabilidade do Estado. Alguns casos chegam ao conhecimento público, mas a maioria continua sob uma cortina de invisibilidade de sistemas de privilégios que são utilizados, sob as vistas do sistema de segurança pública.
A sociedade precisa acercar-se desta realidade, as organizações sociais devem também posicionar-se para não aceitarmos mais que “as rigorosas providências” aconteçam apenas quando acontece um fato dessa natureza. Até agora apenas a menor T foi ouvida pelos órgãos competentes, mas nos perguntamos de que maneira vem se dando esse processo de inquirição? Onde estão as outras meninas? Perguntamos e exigimos providência pela segurança dessas meninas, haja vista que crimes como esses envolvem diversos tipos criminosos e também possíveis responsabilizações de autoridades.
Essa barbárie torna a vida e segurança de meninas e mulheres em nosso estado uma precariedade e vulnerabilidade constantes como conseqüência da omissão do Estado.
A dignidade com suas características de inalienabilidade, imprescritibilidade e irrevogabilidade, exige, na perspectiva dos direitos humanos, eficácia imediata. Desta forma, o fato de alguém, em virtude da necessidade (qualquer que seja ela), dispor de sua dignidade não dá a ninguém o direito de viola-la ou aliená-la!
A violência contra a mulher enquadrada nesse fato que tomou as páginas dos jornais paraenses e nacionais, nos dois últimos dias, constitui-se na ponta do “iceberg” que é a omissão governamental em relação à violação dos direitos humanos que se agrava com a ausência de uma política eficaz de segurança pública.
Por isso, a perspectiva extra-muros não pode deixar de ser colocada como reflexão - construir o muro não resolve o problema – sobretudo porque o enfrentamento da violência e exploração sexual de crianças e adolescentes, não tem sido tratado pelo Estado Brasileiro, e, especialmente pelo Estado do Pará como Política Pública de Direitos Humanos prioritária.
Esse caso não só revela as múltiplas dimensões de violência de gênero, geracional, exclusão e negligência vivenciadas por milhares de adolescentes e crianças no Brasil - que já trazem em sua história de vida sucessivas negações e violações de direitos - como também revelam uma sociedade permissiva, omissa e reprodutora dessa violência.
A violência contra as mulheres deve ser compreendida em vários contextos, para além da esfera doméstica e familiar. No entanto ainda é comum os discursos e as práticas que justificam de várias formas a violência, muitas vezes responsabilizando as vítimas pela violência que sofrem. Prática essa comum nas instituições de segurança pública, como a polícia.
A exposição, a culpabilização da vítima, e a revitimização, tem sido a tônica dada para esse e outros casos semelhantes, exemplos inequívocos da forma como a sociedade e o estado demonstram o despreparo no enfrentamento da questão. As vítimas passam a ter sua imagem explorada pela mídia sensacionalista e extremamente lucrativa, são alvos de um juízo de valor sexista e permissivo, e álibi para brigas partidárias dentro do Estado.
Questiona-se em que momento se prioriza atenção integral às vítimas de violência? Que sentimento de segurança tudo isso traz? Neste momento, se desfaz a ilusão construída nos “muros que protegem” e “nos muros que separam”. Não são muros que definem uma situação de violência; mas antes são as pessoas e o contexto.
O Estado do Pará parece estar virando uma “terra sem lei e sem direitos”. Afinal qual a providência tomada pelo governo em relação à violência praticada contra uma mulher com sofrimento psíquico que foi agredida no mercado ver- o- peso no dia 07 de setembro? Qual a providencia em relação às 06 mulheres que estão na cela de uma Delegacia em Altamira? Quais as providências que o governo está tomando em relação aos inúmeros assassinatos de trabalhadores rurais, que já são inúmeros só no primeiro semestre deste ano? Qual a ação efetiva de consolidar as retaguardas necessárias para prevenir, coibir e responsabilizar essas inúmeras ações de violência no Estado? Quais as providencias tomadas para o alto índice de assassinatos de mulheres no estado do Pará?
O que o Governo estadual e o Judiciário tem feito em relação ao desmonte, desqualificação da Promotoria de Violência contra a Mulher, Vara da Violência contra a mulher, conquistas no enfrentamento da violência contra a mulher?
Queremos que as políticas públicas do qual o governo é responsável por efetivar funcionem. Os centros Maria do Pará; os abrigos para mulheres; as delegacias de atendimento às mulheres; a disponibilização dos recursos humanos e materiais para a atenção às meninas e mulheres em situação de violência; a punição dos agressores; as residências terapêuticas são apenas alguns dos dispositivos que têm que ser fortalecidos e efetivados para que os DIREITOS HUMANOS DE MENINAS E MULHERES seja um fato e ação real do Estado e não um factóide - não aceitamos que mais uma vez se coloque a “responsabilidade” dos fatos ocorridos em cima das vítimas!

PELA VIDA E DIREITOS DAS MULHERES...

Fórum de Mulheres da Amazônia Paraense- FMAP, Articulação de Mulheres Brasileiras- AMB /PA, Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos – SDDH, Grupo de Mulheres Brasileiras – GMB, Rede Feminista de Saúde e Direitos Reprodutivos – Regional Pará, União Brasileira de Mulheres - UBM, Centro de Defesa da Criança e do Adolescente - CEDECA/EMAÚS, Grupo de Mulheres Prostitutas do Estado do Pará – GEMPAC, FASE- AMAZÔNIA, CEDENPA, Fórum Metropolitano de Reforma Urbana, RECID, Grupo de Mulheres do Tapanã, MAMEP, União Brasileira de Mulheres- UBM, GEPEM/UFPA - Observatório Regional Norte - Lei Maria da Penha, Maria Luzia Álvares- Professora UFPA, Instituto Nangetu de Tradição Afro-Religiosa, MOCAMBO, Associação AFRO-Religiosa e Cultural “ILÊ IYABA OMI” - ACIYOMI, Movimento de Luta Antimanicomial – MLA, UNIPOP, FASE/AMAZÔNIA, APAAC/PARÁ

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A Piramutaba Justiceira e o verdadeiro caso do assassinato de Amy



Algum reahab

Esta é mais uma série de foto-drama que está sendo construída a partir das redes sociais, depois de ‘amor venéris ou um colar de brilhantes para uma pobre donzela’ que rolou em 2009, agora temos um novo jogo: apropriação visual de ícones da cultura pop, conectividade amazônida e criação artística em rede.
O jogo é mesmo lúdico, infantil e extremamente prazeroso e ainda tem a vantagem de, com tudo isso, não machuca, não dói, não engorda, não engravida nem pega DST.
Visualmente construído de maneira livre, dialética e colaborativa nas redes sociais “A Piramutaba justiceira e o verdadeiro caso do assassinato de Amy” chuta pra longe esse papo brabo de estética do cotidiano e busca de verdades absolutas, muito exploradas na fotografia pelo seu caráter documental, e usa a fotografia para documentar inverdades, calúnias mediáticas e questionar mesmo o meu posicionamento diante da receptividade da cultura pop e das imagens que consumimos, e quando consumimos o que devolvemos disso tudo. Regorgitar talvez seja interessante, questionamento que surge na minha alma, individualmente e parte em busca de outros olhares, outras consciências, mais formas de fantasia, mais meios de representação de desejos.
Fugir do colonialismo cultural, abraçando-o, um tomara-que-caia vestidos por muitos seios, ou uma tanga de cerâmica difícil de caber na buceta estrangeira, já não me percebo nesta dualidade de bem x mau (& mal). Diluo-me na não fronteira y perco-me a criar imagens de terras jamais prometidas, nasce a já velha e desbotada “piramutaba” a partir dos questionamentos que passei a me permitir durante a construção (nas redes sociais) da Marcha das Vadias Belém. Aconteceu no meio de tanto blá a morte da cantora Amy Whinehouse, mesmo sendo ela portadora de talento singular, foi crucificada pelo comportamento, depois de ouvir tantos comentário mega-machistas sobre a ela pensei: E se a tivessem assassinado? Imediatamente joguei virtualmente com as pessoas que me deram trela: surgiu um roteiro, nasceu o fotodrama.
Sendo assim, a direção de arte desta proposta busca firmar nas fotos a dimensão dos HQs e filmes de outro londrino que admiro bastante Alfred Hitchcock (em especial ‘Disque M para matar’), nas pesquisas dos enquadramentos, da expressão das personagens e na atmosfera, sobretudo, nos enredos que envolvem crimes passionais, suspense e mundo-rock. Ainda, as personagens pescadas ao acaso são Amy Whinehouse, Cher e Frank Zappa, por enquanto, já que a caracterização corporal é também um ponto importante para este trabalho, estou buscando indivíduos paraoaras que se assemelhem a personalidades Pops.

terça-feira, 17 de maio de 2011



Hoje me senti cansada... disse à minha amiga Celi Abdoral que queria ser
uma princesinha... ela me mandou este poema. Fiquei emocionada.

Para que ela tivesse um pescoço tão fino
Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos
Para que a sua espinha fosse tão direita
E ela usasse a cabeça tão erguida
Com uma tão simples claridade sobre a testa

Foram necessárias sucessivas gerações de escravos
De corpo dobrado e grossas mãos pacientes
Servindo sucessivas gerações de príncipes
Ainda um pouco toscos e grosseiros
Ávidos cruéis e fraudulentos

Foi um imenso desperdiçar de gente
Para que ela fosse aquela perfeição
Solitária exilada sem destino
(Sophia de Mello Andressen)

sábado, 23 de abril de 2011

Meus cartazes para o CINECCBEU programação de maio




No mês de maio o CINECCBEU vai ter esta programação e eu ficarei mais velha -velhota (velha idiota):(
Qual é o papo, afinal? Quer que eu fale do con-cei-to pa-ra a cria-ção das peças (argh, que papo brabo!). Hum-hum... tsc, tsc... Vá lá e veja os filmes.
Bem, o Miguel me convidou para fazer o cartaz do mês, honradíssima, aceitei e fiz estes dois. Ele gostou muito... paciência!
Isabela do Lago.

domingo, 3 de abril de 2011

Pé de Bananeira






A fedorenta inconsistência concreta da lama no quintal da pensão da velha Geneusa vem da água que escorre as louças sujas no girau.
Vive ali uma cintilância pardacenta dos restos de comida ao pé das árvores, capins, hortaliças e ao meu pé. Solidão obscura das raízes. Sábias plantas silenciosas, nunca omissas. Sabem as plantas o valor do silêncio para a alimentação.
A combustão dos dejetos: renovação frutífera. O tempo acumulado na sordidez do meu pescoço silencioso como uma planta, segura a minha cabeça, minha cabeça planta o pensamento. Silêncio, fruta verde e desejo.
Tão pequena e solitária brota a bananeira num silencioso e corpulento cacho de frutas. Será comido, suas cascas seguirão solenes ao girau a compor o fedor da cintilância da lama que vai escorrer e alimentar novamente a bananeira.
Pé. Solidão. Fruta. Meu corpo num clarão silencioso.
Isabela do Lago.
Santa Luzia do Pará, 31 de Março de 2011.

domingo, 13 de março de 2011

Aquarelas game over: me mira mas me erra




Minha aquarela (no jogo)

Tenho aqui algumas fichas de jogo
muito embora eu mesma nem queira jogar
prefiro tirar a roupa e tomar um banho de sal grosso
me mira mas me erra
prefiro pintar os olhos e beber água da chuva
não quero jogo
prefiro gritar por dentro e permanecer muda
prefiro atirar no escuro e ver se te acerto
prefiro a madrugada dura na ponta do rio
prefiro um azul escuro na ponta nariz
olhar a cara de otário na fotografia do Rui Barbosa
me dá tesão e calafrio
prefiro fazer aquarela que ser uma atriz
que finge que admira inteligência masculina.

Isabela do Lago.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

PASOLINI DÓI? DÓI.




Mais azul, mais fria, mais, mais... como não tem luz? Há muita luz no azul, sobretudo há luz amarela. Não vê? Normal, é o diário processo de enganação retiniana que age no bicho-córtex fazendo as coisas rodopiarem a percepção.
Veja o mar, está cheio de orixás e voduns!
Veja a natureza, oh singular e admirável in-pessoa que me toca!
Veja a tinta faz formas a partir de cores!
Veja que nasceu uma borboleta na fechadura daquela porta!
Veja só, outro dia os covardes a perseguiam e prenderam-na e hoje ela que é a maioral!
O azul clarinho na paisagem desertificada de Pasolini e amantes em busca e em fuga, a fundamental existência criativa para que saia daqui uma segunda porta que abrirá uma segunda chance e nascerá um segundo ver.
Amar Pasolini é nada fácil, ele me fere a cada quadro, como se quisesse arrancar-me os cílios fio-a-fio, mas entro em contato com meus sentimentos mais profundos a cada vez que vejo a princesa sonhar com os pombos presos à rede, e quando um se solta o outro é que fica preso. Oh, desencontro e angústia!
E fala das paixões e torturas de querer e querer o outro corpo, a outra fala, a outra alma a ponto não conseguir pensar em nada, oh, inferno de ausência!
Quanto ao azul pasolineano de Arabian Nights, análogo ao planeta Terra: No início era tudo azul, depois veio a luz amarela do sol, quimicamente misturadas, nasceu o verde, as matas, a ilusão, a fuga e a busca.
Das pombas presas por uma rede, em homenagem a este episódio de minha percepção, fiz uma borboleta, presa à fechadura da segunda porta. Diferentes espaços onde seres alados são encantados e passeiam tranquilamente entre o céu e a terra, prendê-los é quebrar o encantamento do encontro e fabricar mais uma nova espera. Estou aqui, logo aqui, nesse mundo onde a dor moral vibra e geme dentro do calabouço das almas que sofrem a eterna espera.
Isabela do Lago.

Com uma péssima máquina fotográfica, registrei detalhes da 2a.porta. Pois é, esse papo de tecnologia do possível não cola, não.
Isto é óleo s/ porta.