Isabela do Lago

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Belém, Pará - Amazônia, Brazil
A natureza da coisa arte em minha trajetória ocupou lugar no que se diz opção profissional, nem sei dizer nada a respeito de vocação pois nunca ouvi o tal "chamado". Por toda a minha vida tenho cercado o ato de produzir imagens, sejam elas desenhadas, pintadas, fotografadas, filmadas, dançadas, cantadas ou aquelas que figuram mundos internos nas almas imersas em situações nada concretas, a realidade vem a partir da leitura de quem se presta ao ato existir. Intuição, paixão e o nada me tocam neste viver o sentimento criativo desde que sinto coisas que não vejo e procuro transformá-las em algo visível e para que isto aconteça vivencio a criação no momento dela - e depois a esqueço.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Uma flor para a velha turca que se vai

Uma flor para a velha turca que se vai
e que tua carne sirva a fome dos camirangas

Foi longe o tempo que chegaste
lampião de querosene
lampião que permitiu tua entrada
nas terras da Contenda virada
chegaste lá enganada
menina tola com fitilhos murchos nos cabelos
cabaça dágua: bebe, criança ingrata!

Um dia eu vi aquela velha
Surrando jumentos surdos pela alvorada
perdida do pai, da mãe, dos tios
andarilha
chegaste no nada!

"Velha turca amaldiçoada"
gritavam peões fodendo as vacas
tristes
miseráveis
sedentos
raivosos
temerosos

De tua boca, palavras jamais caladas
menina tola, filha de gente desgraçada!

Plantaste tanto, colheste nada
até a memória se perdeu
levada pela enxurrada

do doce de leite
do arroz de carneiro
do amor que me deste
Tire já o dedo da boca!
Prende este cabelo!
Tome tenência!

chega de choro!

na noite de hoje
irei a alguma encruzilhada
vou deixar uma flor
pra velha turca desmiolada

Bela do Lago.

Um comentário:

  1. A vida passa a encruzilhada, espezinha a gente e planta flores nos caminhos. A turca, a gente, não importa. Todos temos de jumento, choro e fitilho nos cabelos.

    Belas palavras, Bela Bela.:)

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