


A fedorenta inconsistência concreta da lama no quintal da pensão da velha Geneusa vem da água que escorre as louças sujas no girau.
Vive ali uma cintilância pardacenta dos restos de comida ao pé das árvores, capins, hortaliças e ao meu pé. Solidão obscura das raízes. Sábias plantas silenciosas, nunca omissas. Sabem as plantas o valor do silêncio para a alimentação.
A combustão dos dejetos: renovação frutífera. O tempo acumulado na sordidez do meu pescoço silencioso como uma planta, segura a minha cabeça, minha cabeça planta o pensamento. Silêncio, fruta verde e desejo.
Tão pequena e solitária brota a bananeira num silencioso e corpulento cacho de frutas. Será comido, suas cascas seguirão solenes ao girau a compor o fedor da cintilância da lama que vai escorrer e alimentar novamente a bananeira.
Pé. Solidão. Fruta. Meu corpo num clarão silencioso.
Isabela do Lago.
Santa Luzia do Pará, 31 de Março de 2011.