Isabela do Lago

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Belém, Pará - Amazônia, Brazil
A natureza da coisa arte em minha trajetória ocupou lugar no que se diz opção profissional, nem sei dizer nada a respeito de vocação pois nunca ouvi o tal "chamado". Por toda a minha vida tenho cercado o ato de produzir imagens, sejam elas desenhadas, pintadas, fotografadas, filmadas, dançadas, cantadas ou aquelas que figuram mundos internos nas almas imersas em situações nada concretas, a realidade vem a partir da leitura de quem se presta ao ato existir. Intuição, paixão e o nada me tocam neste viver o sentimento criativo desde que sinto coisas que não vejo e procuro transformá-las em algo visível e para que isto aconteça vivencio a criação no momento dela - e depois a esqueço.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

solve et coagula A Alquimia é uma ciência com origens na alta antiguidade, e foi muito difundida na Idade Média. Os caras – alquimistas juravam que eram donos de conhecimentos como a religião, medicina, magia, metalurgia e de outras ciências que hoje conhecemos separadamente, mas não sacavam nada de CARNAVAL. Tá bem... vamos lá, vou me fazer entender melhor... Um dos principais objetivos dos mestres alquímicos era transformar o chumbo em ouro daí a origem do termo em latim solve et coagula e é evidente que isso não pode ser entendido de forma literal. Como eram detentores de vasto conhecimento em uma sociedade em que a grande maioria das pessoas era iletrada, bem sabiam que a sabedoria tem um poder transformador. Agora pare! Pegue no bum-bum e pegue no compasso, meu bem, vamos tramar um fio de pensamento que nos faça solver o solve do solve et coagula e deglutir o coagula com mais gula: traduzindo, fica algo como "desmontar", "separar" e "juntar" ou "unir". Ou seja, solve et coagula não é só um princípio básico das transformações dos metais e da química, mas um princípio da própria transmutação da natureza do homem através do conhecimento. E foi exatamente isso que fiz pra finalmente, em 35 anos anos de existência conhecer o carnaval – porque conhecimento pra mim, é vivência, experiência direta, a ciência só vem pra enfeitar o pavão. Me lancei ao convite de sair de destaque num carro da Embaixada do Império Pedreirense, com enredo abordando Ver-o-peso, esse carro tinha de tudo, como tem de tudo o ver- o -peso, na missão proposta, falar de magia de cultura popular das ervas que curam e trazem sorte (leia isso cantando, por favor!), criar em mim a personagem de Dona Erundina, junto as irmãs turcas encantadas (Mariana e Jarina), isso chegou perto de mim, de minha história dos meus quereres, isso é resistência popular, ôpa já gostei, topei na hora. Sem grana, como sempre fui recolhendo objetos de outros carnavais de outras pessoas, uma cabeça de uma prima, e uma roupa de ritual do terreiro de minha tia – a roupa era de fato usada pra receber Dona Erundina, guardada num baú com outras vestes ritualísticas tinha o cheiro mesmo da defumação, dos banhos de ervas e... bastante rasgada, usadíssima. Já a cabeça não combinava com nada, daí apliquei diretamente o solve et coagula naquilo tudo e me mandei pra avenida... nossa... que experiência fantástica!!!! O carnaval de rua é ouro do povo, tanta luta, tanto brilho, bateu mesmo fundo no meu coração, me dilui completamente, certamente eu não fui a única a solver et coagular, inclusive porque não há recursos pro carnaval paraoara, as escolas são pobres, feitas por sábios e sábias alquimistas de periferia, concluo o pensamento: daqui há pouco vai entrar na avenida Marquês de Sapucaí uma escola de samba falando do estado do Pará, e vai entrar rica e linda, inclusive porque tod@s sabemos que o governo de merda desse estado, tem bases hipócritas, clientelistas e porcamente elitistas. Isso é jogar sujo com a identidade popular, isso é jogar sujo com a expressão da cultura negra brasileira, isso é estratégia de opressão no mais alto nível de corrupção pega-se todo o trabalho de transformar o chumbo em ouro, rouba este ouro e o transforma em pó e sai espalhando por aí indevidamente até que perca totalmente o valor. É isso aí, Império Pedreirense, você entrou na minha vida no momento certo, seguirei pro resto dos meus dias compartilhando desta magia. Simão Jatene, não me toque, não me bula que eu danço na ponta da agulha. Isabela do Lago.

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