Isabela do Lago

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Belém, Pará - Amazônia, Brazil
A natureza da coisa arte em minha trajetória ocupou lugar no que se diz opção profissional, nem sei dizer nada a respeito de vocação pois nunca ouvi o tal "chamado". Por toda a minha vida tenho cercado o ato de produzir imagens, sejam elas desenhadas, pintadas, fotografadas, filmadas, dançadas, cantadas ou aquelas que figuram mundos internos nas almas imersas em situações nada concretas, a realidade vem a partir da leitura de quem se presta ao ato existir. Intuição, paixão e o nada me tocam neste viver o sentimento criativo desde que sinto coisas que não vejo e procuro transformá-las em algo visível e para que isto aconteça vivencio a criação no momento dela - e depois a esqueço.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Nós de Aruanda - Artistas de Terreiro

fotografia de Samantha Silva & Tatyane Silva Seria uma galeria de artes visuais um espaço de branco? E perguntamos se seria desse branco que é um 'branco' que ao mesmo tempo dá o sentido ao pálido da pessoa e ao significado político da palavra. A pergunta é necessária, pois esta exposição é uma homenagem, uma celebração à memória da luta de Dona Rosa Viveiros, ou Nochê Navanakoly, ou Mãe Doca, negra mulher e maranhense de Codó, que apenas três anos após a abolição da escravatura enfrentou o racismo, preconceitos da época e inaugurou seu Terreiro de Tambor de Mina na capital paraense. A partir dos 18 de março de 1891 ela foi presa várias vezes porque tocava tambores e cultuava as divindades africanas com as quais preservava as tradições de matriz afro-amazônica, e nem por isso desistiu de manter aberto o terreiro que dava lugar à manutenção das tradições de sua origem negra africana. A consciência negra foi o que motivou Mãe Doca a enfrentar os desmandos da polícia e o poder constituído em alicerces racistas e discriminatórios. Aruanda é uma referência ao porto de São Paulo de Luanda, lugar de onde partiam os negros sequestrados e trazidos ao Brasil na condição de escravos, e a referência que ficou na memória coletiva como o lugar onde se encontraria novamente a liberdade que vinha com as lembranças do continente de origem. Luanda, Aluanda, Aruanda, o Tempo, que é divindade de Angola (do mesmo porto de Luanda), muda a palavra e muda também a semântica, e de uma referência geopolítica, Aruanda persiste hoje no imaginário afro-brasileiro como uma espécie de paraíso que habita cantigas de brincadeiras de roda, jogos de capoeira, rezas e cantos religiosos, as manifestações de cultura popular e outras situações em que os povos negros têm importância na construção da cosmologia do lugar e do seu povo. ”Nós de Aruanda – artistas de terreiro” dá título para a exposição e brinca com os sentidos que essa expressão pode ter: de quem, ou de quais nós, nós estamos falando, quem somos nós? Talvez o que queiramos seja nos debruçar sobre esses enlaces emaranhados desses nós que, ao fim, se traduz na busca por conhecer esse rico universo numa perspectiva diferenciada: a produção poética e os estudos universitários como ferramentas para conhecer, descobrir, divulgar e defender a riqueza das culturas tradicionais de matrizes africana e suas correlações com as muitas Áfricas que (re)inventamos no Brasil, com esta exposição também celebramos o 18 de março da primeira resistência à prisão, celebramos Mãe Doca e toda a resistência dos povos de terreiros no Pará. Pode ser que agora, no século XXI, tanto a capital paraense quanto as artes visuais sejam sim um espaço legítimo de ocupação do 'negrume' amazônida, mas também é latente que, assim como os terreiros nos espaços públicos, ainda é invisível a produção artística paraense que coloque em evidência as questões sócio-culturais desse mesmo “ser afro-amazônico”. O que apresentamos nesta coletiva são práticas artísticas do cotidiano das culturas da diáspora que recriam algumas dessas diversas Áfricas amazônicas, apontam para a pluralidade de entendimentos sobre a arte e que em comum trazem um forte viés emotivo baseado na coletividade, no cotidiano dos terreiros, nas lutas políticas por direitos de cidadania, na política afirmativa, nas práticas ritualísticas, na memória afetiva e na memória de vida como elementos essenciais para a construção de mundo que resulta na poética desses artistas, assim como para a compreensão teórica para a construção dos paradigmas estéticos afro-amazônicos - uma futura estética que tem a potência da estética diversificada e construída pela experiência plural negra e brasileira nesta região, e que indica vínculos a elementos socioculturais africanos e amazônidas. Belém/PA, março de 2013. Grupo de Estudos e Pesquisa Roda de Axé. Serviço:Nós de Aruanda- Artistas de Terreiro” Abertura da Exposição: dia 08 de Março das 19 às 22:00 horas. Galeria Theodoro Braga – Centur. Visitação: de 11 a 22 de março 2013. 14 de março, quinta - 16h sessão de cineclube; das 17:30 as 19h performance musical de Mãe Rita ; 19h Roda de conversa com os artistas e pesquisadores envolvidos no projeto. Pauta: Processos criativos nas comunidades de terreiro. (OBS, neste dia está prevista sessão solene pra povos de terreiro na ALEPA, previsto para as 9h da manhã). Contatos: Lideranças de Terreiro/artistas: - Mametu Nangetu – 8806 73 51 / 32267599; - Kátia Haadad – 88223937/82206238; - Katia Jurema Sousa – 88840453; - Ysa Mota – 83029044; - Samanta Silva – 8056 72 63; - Alex Leovan - 4009-3263 ou 8155-8366; - Rodrigo Ethnos – 8265 12 69; - Tata Kinambogi (Arthur Leandro)- 9933 30 77. Pesquisadores/ coordenação: - Hanavalona Falayola – 8168 62 52 - Isabela do Lago – 8310 48 38 - Hirley Muriel – 87187207;

Um comentário:

  1. É muito bom ter alguém que divulgue informações sobre as origens e fundamento da cultura Afro-Brasileira.Eu gostaria de obter mais informações sobre esta pois estou a iniciar uma pesquisa sobre a verdade e mitos que fez surgir esta cultura e com ela fez surgir a divulgação da capoeira em todo mundo.Meu email joao_favas@hotmail.com agradecia um contacto da vossa parte.

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