Isabela do Lago

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Belém, Pará - Amazônia, Brazil
A natureza da coisa arte em minha trajetória ocupou lugar no que se diz opção profissional, nem sei dizer nada a respeito de vocação pois nunca ouvi o tal "chamado". Por toda a minha vida tenho cercado o ato de produzir imagens, sejam elas desenhadas, pintadas, fotografadas, filmadas, dançadas, cantadas ou aquelas que figuram mundos internos nas almas imersas em situações nada concretas, a realidade vem a partir da leitura de quem se presta ao ato existir. Intuição, paixão e o nada me tocam neste viver o sentimento criativo desde que sinto coisas que não vejo e procuro transformá-las em algo visível e para que isto aconteça vivencio a criação no momento dela - e depois a esqueço.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Asas à violência

Há séculos e séculos a mulher, ou os homens e mulheres que assumem papel feminino diante da sociedade sofrem com a violência de gênero, violência esta que se revela em diferentes níveis e fere fisica e subjetivamente a pessoa do gênero feminino.
No entanto, muitas pessoas rotulam a violência de gênero como "briga de marido e mulher", mas a questão vai mais além de tapas, empurrões, chutes, estupros e outras formas de representação da masculinidade doentia gerada pela sociedade paternalista.
A Lei nº11.340, popularmente conhecida por Lei Maria da Penha, prevê como criminosas situações de violência moral e psicológica , dentre outros casos, conforme http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2011.340-2006?OpenDocument
Mas o que quero ressaltar aqui, é minha indignação diante de um texto publicado no blog da jornalista Cleide Magalhães que na intenção de divulgar a última programação do Corredor Polonês, sugestiona a agressão contra a mulher de maneira vulgar e medíocre como podem conferir em http://ojornalismodaasas.blogspot.com/2009/10/surra-de-arte-no-corredor-polones.html
Está aberta a questão a quem quizer responder:
Que asas são estas que o jornalismo dá?
Será que apelos violentos já não estão batidos demais no mercado da cultura de consumo brasileira?
O Corredor Polonês não merece ser castigado com este descabelamento midiático de página policial, aquele lugar tem uma bela história porque conta a história da cidade de Belém através da transformação estética. Sinto muito...
Ademais a citação de Nelson Rodrigues está absolutamente fora de contexto, e muito mal colocada, se eu estiver errada, por favor, me desculpem, até porque ela publicou, mas não sei se quem escreveu o infeliz texto foi a mesma, eu me recuso a acreditar que tal pensamento sobre a arte com forte apelo à violência tenha saído de alguma das cabeças que pensam o Corredor Polonês, porque pessoas de sã consciência política tem o dever de combater a violência de gênero e não simplesmente estimular uma postura ofensiva como esta em nome da Arte, e o que é pior, eu como MULHER, artista e fundadora do movimento cultural Corredor Polonês durante 5 anos de minha vida, e ativista dos direitos da mulher, tendo inclusive usado a arte no combate, prevenção e tratamento de mulheres em situação de violência familiar e doméstica me sinto ofendida e diante do ocorrido é com muito pesar que me declaro definitivamente(agora sim!) desvinculada de tal lugar.
Gente, será que ninguém por lá leu isto antes de ser publicado? Ou isto foi proposital? E ainda têm pessoas que se dizem intelectuais e apreciadoras de arte que prestigiam tal iniciativa?
Quem quizer que me atire pedras, mas se a origem da idéia foi feminina, sinto-me envergonhada por esta pessoa, e se foi masculina, quero dizer que há tratamento para a misoginia, já o machismo exacerbado é um problema social que precisa ser combatido, acreditem em mim: Mulher não gosta de apanhar, e arte não bate em ninguém que já não esteja interiormente machucado.
Isabela do Lago

3 comentários:

  1. Dê asas a si mesmo, as construções imateriais que deixaste, de pouquinho, em pouquinho pelo piso da Campina. A agressividade humana se estende por todas as nossas construções, essa construção de Nelson Rodrigues não se contextualiza quando reduzem a nosso trabalho a rodas de danças exóticas (pra francês ver) que eu seja "burra", como uma vez o cara da PZZ mandou dizer pra mim e agora vos aviso,com outra voz de Nelson Rodrigues, em contexto:: "Só os imbecis tem medo do ridículo", mulheres podem fazer balizas ridículas, mas não são imbecis a ponto de 'merchandar' um trabalho no centro de Belém

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  2. Artistas fazendo apologia à violência é muito estranho!

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  3. Penso que foi um equivoco muito grande comparar a arte à violência. No combate à violência contra a mulher precisamos contar com muitos atores e parceiros, porém comparar a uma surra a beleza visual das artes, na minha opinião fere e mancha tal beleza.

    Surra de arte? Por mais que a intenção haja sido benéfica, é necessário compreender o sentido da escrita, do texto, e de como ele pode representar idéias discriminatórias e preconceituosas contra a mulher.
    Nelson Rodrigues foi um autor maravilhoso, artista da escrita, mas usá-lo como figura que valoriza a violência é para mim um grande equívoco. Nelson escrevia sobre mulheres e, diga-se de passagem, sobre vários tipos de mulheres. Comparar a frase solta sem analisar o contexto em que foi escrita é iludir o leitor que não conhece o autor e que crê facilmente no que lê a primeira vista.

    O jornalismo tem uma função tremendamente especial nesta sociedade de consumo capitalista, e leva para dentro das casas das pessoas idéias e valores de diferentes teorias. Um simples texto para uma simples divulgação de um evento artístico, nunca pode ser um texto qualquer, sem pensamento crítico e político. Há pessoas que se incomodam com o que lêem, desculpe-me a escritora, mas seu texto trouxe incômodo. O mesmo faz apologia à violência. A arte não combina com violência, surras e pancadas. Isso não!
    Fazer apologias a qualquer tipo de violência, não é algo inocente, ou mesmo dizer “não foi isso que quis dizer”, mas disse, escreveu, sem compreender que há um alto índice de violência contra a mulher em nossa sociedade, e dizer “que mulher gosta de apanhar”, é muito perigoso, é um crime de omissão.

    “A porrada artística e estética” não pode estender-se a todos, nossa sociedade já encontra-se numa porrada de violência, não precisamos de mais. Não se devem reservar hematomas para ninguém, mas sim divulgar a prevenção, preservar a paz, levantar a bandeira da não violência. É isso que eu espero dos artistas!
    Ediane Jorge.

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