Isabela do Lago

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Belém, Pará - Amazônia, Brazil
A natureza da coisa arte em minha trajetória ocupou lugar no que se diz opção profissional, nem sei dizer nada a respeito de vocação pois nunca ouvi o tal "chamado". Por toda a minha vida tenho cercado o ato de produzir imagens, sejam elas desenhadas, pintadas, fotografadas, filmadas, dançadas, cantadas ou aquelas que figuram mundos internos nas almas imersas em situações nada concretas, a realidade vem a partir da leitura de quem se presta ao ato existir. Intuição, paixão e o nada me tocam neste viver o sentimento criativo desde que sinto coisas que não vejo e procuro transformá-las em algo visível e para que isto aconteça vivencio a criação no momento dela - e depois a esqueço.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Cabeça de vento sobre chão atmosférico

Perguntário:

Pense bem, meu bem: Por onde você andou quando tinha 15 anos de idade? Como agia em casa, ou com a compaheiragem de rua? E depois quando tornou-se mãe, certamente passou a ter outro com portamento, não ?
E agora oque faz? Como se planeja? E quando se sente angustiada, ou ameaçada, ou violada, perseguida ou de alguma forma contrariada? Como é?

Cataventário:


Olhe sua vida inteira, recorra ao mofo dos ábuns de família se necessário e perceberá que você é muito diferente de você em diversos momentos de vida, mesmo que você continue sendo você mesma. Assim é Oya, ou, assim são (imagino) a muitas Oyas espalhadas mundo afora.
Mulheres de Oya são tão diversas quanto são diversos os tempos atmosféricos, já as vi plenas, calmas e silenciosas como águas de um rio que oscila apenas entre a seca e a enchente, como uma brisa que que refresca e acaricia sua face, mas também conheço daquelas tão velozes que chegam a ser invisíveis na peleja diária, mas vemos os frutos do movimento em passagem, outras podem ser bruscas numa mudança repentina de direção (muda a direção, mas não o foco) como um tornado violento que pode arrancar os telhados das casas, derrubar árvores e mudar tudo de lugar partindo rumo a algo que não se sabe pra onde, não se vê oque é. Ser algo que não se vê e jamais será uma substância.

Agora, imagine isso tudo numa sociedade capitalista pra caralho e escravocrata pra porra (que o Brasil nunca deixou de ser), pense, nessas mulheres que tem literalmente cabeça de vento, e que são fadadas a ser criadas por mães complacentes, pais violentos e na sequência, “entregues” a maridos misóginos e/ou patrões cardiopatas. Pense que essas cabecinhas de vento são diariamente sufocadas, treinadas para abafar suas tempestades ao invés de superá-las, represar a mansidão dos rios, ocultar os fluxos elétricos e congelar as chuvas sem despejar, imagine, observe, ouça a natureza e saberá que essas partículças de gelo negativamente carregadas produzirão raios no caminho da tempestade que se acumula. Obstruída em seus caminhos, Iansã nos agita internamente através de um varal com lenços vermelhos estendidos vacilantes ao vento dentro de seu hipotálamo, conforme a intensidade do movimento no varal hipotálamico as oscilações vêm em em diversas escalas, podem ser arrepios aqui, cãimbras ali, tremores, espirros, surtos epiléticos em variadas intesidades, dentro de nós, ela persiste incansável, está sempre ali, nunca dorme.

Inventário:

Suponha que dentro de seu corpo tenha abrigo para uma minúscula fagulha desta senhora, pense novamente nas várias fases de sua vida em que precisou contê-la, há portanto, um estoque de fogo em seu coração, haverá uma história a partir daí, e seja lá quais forem os meandros e caminhos desta história, uma dia o seu peito se abrirá ao tempo e libertará sua outra voz incontrolável como um animal selvagem, uma voz de vôo gritará: ÊPA! HEYIIIII!!!
E o chão duro e frio sob teus pés será flúido, será invisível, atmosférico.
Isabela do Lago



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